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Protestos fazem Piñera cancelar cúpula do clima e reunião da Apec no Chile

Pressionado por protestos que têm terminado em confronto e depredações, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, desistiu nesta quarta-feira, 30, de receber duas importantes cúpulas internacionais, uma econômica e outra ambiental, que ocorreriam este ano – a final da Libertadores, porém, foi mantida no dia 23. Ele alegou que a prioridade agora é “restabelecer a ordem pública”.

Enquanto o presidente lamentava a decisão, milhares de chilenos voltavam a se reunir na Plaza Itália, a dois quilômetros do Palácio La Moneda. Houve novos confrontos. À tarde, os sons ouvidos nas quadras próximas do palácio foram os de sirenes de bombeiros ou da polícia, de explosões de bombas de gás, de pedras atingindo os blindados e dos manifestantes chamando de assassinos os “pacos”, apelido dos policiais. Há 20 mortes, 5 delas atribuídas às forças de segurança.

Desde o dia 18, após um protesto contra o aumento no preço do metrô, Piñera tem tomado medidas para tentar arrefecer a mobilização. A suspensão do encontro da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que reuniria líderes mundiais nos dias 16 e 17, e da Conferência do Clima da ONU, a COP-25, de 2 a 13 de dezembro, foi o recuo de maior repercussão externa. “É uma decisão dura. Afinal, 73% de nossas exportações vão para a Apec. A COP também era fundamental para lutar contra mudanças climáticas. Elas não ocorrerão mais no Chile”, afirmou Piñera, demonstrando abatimento.

Suas concessões não têm diminuído a mobilização, que varia de acordo com o tema central da convocação, feita pelas redes sociais e sem líder conhecido. As de ontem, focadas em pedágios (há oito praças para se cruzar Santiago), foram menores que as de terça-feira, por melhoria nas aposentadorias.

Para especialistas, a diversidade de demandas e a falta de um negociador do lado oposto são fatores que fizeram a estratégia de Piñera fracassar até agora. Após dizer que estava em guerra, o presidente tem feito concessões em sequência. Primeiro, anunciou um pacote de emergência cujo custo será de US$ 1,2 bilhão. Depois, fez mudanças no gabinete, trocas criticadas pelos manifestantes por não trazerem ministros de outra corrente política. Alguns nem foram demitidos, só trocaram de pasta.

Na reunião da Apec, a Casa Branca esperava que o presidente Donald Trump assinasse com o chinês Xi Jinping o primeiro protocolo para um acordo comercial que colocaria fim à disputa entre os dois países. “A suspensão cria um dano enorme à imagem do país. A guerra comercial entre EUA e Chile poderia ter fim aqui. É um revés para Piñera”, avalia o analista político Juan Pablo Toro, da consultoria Athena Lab e professor da Pontifícia Universidade Católica do Chile.

Piñera disse nesta quarta não descartar “mudanças estruturais”, o que foi interpretado como uma abertura à convocação de uma Constituinte, promessa que Michelle Bachelet, sua antecessora, não conseguiu cumprir. Para Eugenio Guzmán, professor da Universidad del Desarrollo, governo e oposição ainda têm diagnósticos distintos para a revolta. “A oposição pede uma nova Constituição, enquanto o governo aposta em reformas que aliviem a situação da população”, afirma Guzmán. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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