O 1.º de outubro, data que marca o dia da Revolução Comunista e o nascimento da República Popular da China, foi comemorado nesta terça-feira, 1, de maneira mais discreta no seu aniversário de 70 anos. O evento foi ofuscado pelo protesto pró-democracia em Hong Kong, que na próxima semana completará quatro meses ininterruptos, na maior crise da história do território sob domínio chinês.
A data, batizada pelos manifestantes de Hong Kong de “dia de luto nacional”, também ficou marcada como o primeiro dia em que um deles foi ferido por arma de fogo de um policial, no distrito de Tseun Wan. A vítima, um estudante de 18 anos, foi atingido no ombro, somando-se às 51 pessoas que ficaram feridas nos confrontos de ontem com a polícia.
Yolanda Yu, superintendente da polícia, disse que o policial agiu em “legítima defesa”. Ao menos 15 pessoas, com idades entre 18 e 52 anos, precisaram ser hospitalizadas.
Os manifestantes utilizaram coquetéis molotov e a polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo, muitas delas atiradas para o alto, e canhões de água. Em um vídeo compartilhado nas redes sociais é possível ver um jovem que se identifica como Tsang Chi-kin no chão, com sangue no peito. “Dói o peito, me levem a um hospital. Preciso ir ao hospital”, pede o jovem.
Ampliação
Mobilizados desde junho, os manifestantes alegam que a China viola o princípio “um país, dois sistemas”, estabelecido no momento em que o Reino Unido devolveu o território para os chineses, em 1997. Em 9 junho, manifestações pró-democracia começaram após a apresentação de um projeto de lei que previa a extradição de cidadãos de Hong Kong para julgamento pela justiça chinesa.
Aos poucos, a pauta de reivindicações se ampliou, incluindo a resistência contra a crescente influência da China no território semiautônomo e a dura oposição contra o governo local, que é acusado de se submeter aos interesses de Pequim. As ações se transformaram em um movimento que busca ampliar as garantias democráticas e marcar uma oposição ao autoritarismo da China.
No início de setembro, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou a retirada completa do projeto de extradição, que já tinha sido suspenso no início de junho, em uma tentativa de conter os protestos. O anúncio, porém, não foi suficiente e a crise se tornou a mais grave em Hong Kong desde que o território foi devolvido pelo Reino Unido à China.
Discurso breve
Em um imenso desfile militar organizado pelo governo chinês em Pequim, o presidente Xi Jinping defendeu ontem, em discurso mais breve do que o esperado, um progresso chinês amparado no pacifismo. No entanto, ele disse que as Forças Armadas devem defender a soberania chinesa.
“Nada pode fazer com que os pilares de nossa grande nação se abalem. Nenhuma força pode impedir que a nação e o povo da China sigam em frente”, disse Xi, no Portal da Paz Celestial, monumento construído em homenagem à fundação da República Popular da China, em 1949. “Há 70 anos, em um dia como hoje, o camarada Mao Tsé-tung declarou solenemente ao mundo, neste mesmo lugar, a fundação da República Popular da China e o povo chinês se levantou.”
Xi ressaltou que o país deve promover estabilidade em Hong Kong e Macau, duas regiões administrativas especiais da China, e um diálogo ainda mais pacífico com Taiwan. Ele acrescentou que o país “deve continuar o progresso na reunificação completa da pátria”.
Celebração
A celebração dos 70 anos da revolução é um dos eventos mais importantes do ano para o país. A festa na Praça da Paz celestial foi organizado para projetar uma imagem de confiança por parte do governo chinês, que também enfrenta uma guerra comercial com os Estados Unidos que vem registrando uma impacto significativo na economia.
O presidente da China segue bastante popular após uma campanha agressiva contra a corrupção e por projetar a segunda maior economia do mundo também como uma liderança na política internacional. Xi estava acompanhado ontem de seus predecessores Hu Jintao e Jiang Zemin. (Com agências internacionais).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.