Símbolo da Operação Mãos Limpas, que escancarou o sistema de corrupção na Itália na década de 1990 e inspirou a Operação Lava Jato, o ex-promotor Antonio di Pietro demonstrou apoio ao juiz Sergio Moro, em entrevista exclusiva à ANSA, e disse estar preocupado com retaliações que o magistrado brasileiro possa sofrer.
“Expresso a plena solidariedade ao juiz Sérgio Moro, que está apurando episódios que podem ter uma grande relevância penal”, afirmou o italiano, referindo-se ao trabalho conduzido pelo brasileiro há dois anos na operação que investiga casos de corrupção na Petrobras e que, depois de 24 fases, já prendeu executivos de empreiteiras e políticos.
Di Pietro, porém, alertou para a possibilidade de Moro ser criticado e se tornar o vilão da crise política brasileira, desviando a atenção das investigações. “Lamento apenas o fato de que, como já aconteceu na Itália, culpem quem cumpre o próprio dever, em vez de condenar os crimes. A Moro digo o que minha irmã me falou: faça o seu dever e pague as consequências”, aconselhou o italiano.
Ao lado de outros promotores de Milão, Di Pietro foi o responsável por conduzir a Operação Mãos Limpas a partir de 1992, que apurou dezenas de casos de pagamento de propinas em contratos do governo e que levou ao fim a chamada Primeira República Italiana e ao desaparecimento de vários partidos políticos.
Durante a campanha da operação Mãos Limpas, 2.993 mandados de prisão foram expedidos; 6.059 pessoas foram investigadas, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeirosministros. Alguns políticos e empresários chegaram a cometer suicídio quando seus crimes foram descobertos.