Muitas ilhas localizadas no litoral paranaense são consideradas por biólogos, médicos veterinários e ambientalistas importantes pontos de nidificação de pássaros. Em alguns locais, as aves conseguem fazer seus ninhos, botar seus ovos e cuidar de seus filhotes de maneira bastante sossegada. Em outros, a tranqüilidade já não é tão grande devido principalmente à influência gerada pela presença de seres humanos.
Pensando nisso, o engenheiro agrônomo Reginato Bueno, que atua no Instituto Ambiental do Paraná (IAP) da cidade litorânea de Paranaguá, está estudando, junto com uma equipe de trabalhadores, a possibilidade de ampliar a proteção em torno das ilhas oceânicas, tornando-as oficialmente lugares de nidificação. A idéia envolve as ilhas Figueira, na divisa com o Estado de São Paulo, de Currais, que fica em frente à cidade de Guaratuba, e de Itacolomi, em Matinhos.
?A ilha Figueira, embora pertença ao litoral do Paraná, tem uma legislação feita por São Paulo, que a transforma em unidade de conservação. Mesmo assim, queremos aumentar sua proteção. Já Itacolomi e Currais necessitam de algo mais específico, sendo que estamos estudando formas de tornar a nidificação dos pássaros que vivem nelas mais tranqüila. Por enquanto, nossos estudos são apenas projetos, mas tencionamos colocá-los em prática o quanto antes?, afirma.
Entre os diversos pássaros que procuram as ilhas para fazer seus ninhos, os mais numerosos são os atobás, as gaivotas e o talha-mar. Muitas vezes, no período de nidificação, os indivíduos são atrapalhados por barcos pesqueiros que circulam no entorno das ilhas. ?Em função disso, uma de nossas intenções é proibir a pesca a uma determinada distância das ilhas. Para isso, teríamos que aumentar a fiscalização nas proximidades dos locais?, diz Reginato. ?Outro problema da atividade pesqueira acontece quando as redes são colocadas muito próximas às rochas, acabando com o refúgio de peixes e impedindo que eles consigam se abrigar.?
Também é uma ameaça às aves o lixo jogado em locais inadequados pela população. Geralmente, os animais não conseguem distinguir determinados objetos, como pedaços de plástico, de alimentos, vindo a consumi-los e posteriormente a morrer. Segundo Reginato, os pássaros adultos chegam a levar o lixo para alimentar seus filhotes. ?As aves, independente da idade e do tamanho, não conseguem digerir o lixo consumido e acabam adoecendo. Já encontramos diversos indivíduos mortos devido à ingestão de plástico. O problema envolve a conscientização da população em relação ao assunto e o respeito ao meio ambiente?, comenta.
Guará se tornou raro no Paraná
Foto: Lucimar do Carmo |
![]() |
Casais da ave foram avistados na região de Guaraqueçaba. |
No passado, era comum visualizar no litoral do Paraná o guará (Eudocimus ruber), um pássaro que mede aproximadamente 58 centímetros de altura e que chama bastante a atenção devido ao vermelho intenso de suas penas. Há cerca de 40 anos, o animal, que era abundante, tornou-se raro. Ele praticamente sumiu da área litorânea do Estado, voltando a ser visto apenas em 2006, para comemoração da população local e de ambientalistas.
?No ano passado, alguns casais de guarás foram vistos na região de Guaraqueçaba, o que surpreendeu a todos. O pássaro é muito arisco e não consegue conviver com o ser humano. Devido ao aumento das ocupações no litoral paranaense, acabou desaparecendo da região?, explica Reginato Bueno. ?A ave vive de Santa Catarina ao Rio Grande do Norte, onde ainda é encontrado um bom número de indivíduos. Porém, está ameaçada de extinção em todas as regiões?.
Além das especulações imobiliárias, a caça também contribuiu com o sumiço do guará. Antigamente, em diversas regiões do Brasil, o animal tinha seus ninhos destruídos e ovos coletados. O principal objetivo disso era a obtenção de penas, que devido a coloração viva eram muito utilizadas para a fabricação de adornos. ?Os guarás se alimentam de pequenos caranguejos que contêm zinco. É justamente o zinco que lhes dá a coloração vermelha.?
Pertencentes à família Threskiornithidae, conhecida como íbis, os guarás habitam área de manguezais e possuem um bico fino e comprido. Algumas vezes, são confundidos com os colhereiros (Platalea ajaja), que possuem o bico em forma de colher, o que deu origem ao nome popular. Estes ocorrem tanto na América do Sul quanto na do Norte e na Central, se alimentando de peixes, insetos, moluscos e crustáceos. Possuem coloração rosada, que se torna mais intensa no período reprodutivo, e também vivem em mangues e alagados. (CV)
Gaivotas e atobás são encontrados nas praias
Entre as aves mais numerosas a habitarem o litoral do Paraná, a mais comumente visualizada por moradores, veranistas e turistas costuma ser a gaivota, bastante reconhecida pelas penas brancas e acinzentadas. Nas praias, elas podem ser vistas em grupos ou sozinhas caminhando à procura de pequenos animais marinhos. Outras vezes, sobrevoam a superfície da água, também em busca de alimentos. Conforme a espécie, costumam fazer seus ninhos no chão ou em rochedos.
Atobá
Já o atobá é um pássaro tropical que pode colocar um ou dois ovos. Quando são colocados dois, geralmente só o filhote mais forte consegue sobreviver. O animal também é popularmente conhecido como mergulhão. O nome se deve ao fato de ele se lançar das alturas em mergulhos de até oito metros de profundidade para capturar peixes que lhe servem de alimento. Muitas vezes, os mergulhos impressionam as pessoas que os assistem. Estas algumas vezes também confundem o atobá com o alcatraz, uma ave bastante parecida e que possui manchas amareladas na cabeça e no pescoço, embora sua cor predominante seja branca, com as pontas das asas escuras.
Talha-mar
Também conhecido como corta-mar, corta-água e bico-rasteiro, o talha-mar, que pertence à família Rynchopidae, gosta de viver em lugares tranqüilos e costuma pescar nos finais de tarde e durante a noite. Ele geralmente voa com o bico aberto, cortando a água com a mandíbula inferior. É daí que se originaram seus nomes populares. O pássaro se alimenta de camarões e peixes pequenos. Também ocorre em abundância em algumas regiões do litoral de Santa Catarina. (CV)
