A solução oferecida para os milhares de desabrigados pelo terremoto do dia 27, no sul do Chile, foi um modelo de casa menor que um barraco de favela no Brasil. A diferença é que em vez do calor tropical, lugares como Constitución, Llico e Arauco registrarão temperaturas negativas em um mês. Falta de luz, réplicas e ameaças de tsunami mantêm em estado de alerta os sobreviventes da tragédia.
Os barracos de 18 metros quadrados são construídos em lâminas de pinho e têm teto de zinco. Não têm forro, janela, banheiro ou água. A ONG Um Teto para o Chile recebeu US$ 30 milhões para construir essas “casas”, mas moradores de Arauco se rebelaram contra o projeto, um dia depois de o presidente Sebastián Piñera assumir o poder. “A reconstrução do país não pode estar fundamentada sobre esses barracos”, diz o prefeito da cidade, Mauricio Alarcón.
A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou a favela de Fresia, em Arauco, que cresceu ao redor de 18 casas de pinho erguidas pela mesma ONG há cinco anos. O chão da favela tem uma rachadura, provocada pelo tremor do dia 27 e os moradores do local buscam, nos bosques, nascentes de água para beber. Muitos estão há semanas nas montanhas, dormindo no chão com medo de um novo avanço do mar. A resistência ao projeto de moradia da Um Teto para o Chile é maior entre os que tinham boas casas antes da tragédia. Os mais pobres acham que as casas são bem-vindas.
“As pessoas estão vivendo sob lonas plásticas. As casas oferecidas seriam uma solução provisória para o outono”, opina Juan Alberto Aguirre, responsável pela Um Teto Para o Chile em Concepción. Para Aguirre, a resistência do prefeito de Arauco e de alguns moradores põe em risco a vida de milhares de pessoas. “É como criticar a qualidade de um hospital de campanha. Não faz sentido, porque se trata de uma solução provisória.”