Foto: Ciciro Back

Marina agregou serviços à sua academia de ginástica.

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No competitivo mercado atual, tornou-se praticamente chavão dizer que não basta mais a um profissional liberal – como um psicólogo ou advogado – se graduar na faculdade e abrir um escritório para ganhar dinheiro. Oferecer uma habilidade pessoal em troca de dinheiro não é mais suficiente para que a categoria dos autônomos consiga viver nas grandes cidades.

?A definição do profissional liberal mudou. Antes, era conhecido apenas como alguém que não fornece um produto, mas fornece mão-de-obra qualificada. Hoje, isso apenas não basta. É preciso ter um quê a mais?, opina a consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Márcia Giubertoni. Ela conta que muitos profissionais liberais vão ao Sebrae atrás desse quê a mais e o encontram em cursos normalmente voltados a empresários. ?É quase como se o profissional tivesse se tornado o produto, e é preciso saber se vender e ser viável para se dar bem no mercado?, aponta.

Na busca de fazer o cliente chegar até o profissional, conta Márcia, é preciso fazer coisas que a maioria dos autônomos não aprende na faculdade. ?Hoje, mesmo um dentista precisa conhecer técnicas de venda, saber lidar com fornecedores, ter capacidade para gerir uma empresa.?

Num mesmo local

Outro caminho, diz a consultora, é juntar habilidades distintas num mesmo local para que o cliente de um passe também a ser o cliente de outro. Com apenas 23 anos, mas com iniciativa de dar inveja a profissionais com muito tempo de carreira, Marina Tareskiewcz aprendeu bem este conceito. Formada em beleza e imagem, apostou num nicho já saturado em Curitiba: o de academias de ginástica. Porém, soube procurar seu espaço no mercado, juntando diversos serviços num mesmo local.

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?O nosso conceito é proporcionar qualidade de vida. As pessoas não vêm aqui para ficarem saradas. Procuramos um público mais discreto, que esteja preocupado com a saúde?, conta. Na academia Sui Generis, que fica no bairro Água Verde, os clientes utilizam os equipamentos em um circuito de apenas meia hora, sempre acompanhados de perto por um professor. A idéia é que, acompanhando a velocidade sempre acelerada das pessoas, exista um lugar onde se fique em forma em pouco tempo.

?Também juntamos a este conceito serviços que não se encontram em outro lugar. Temos um fisioterapeuta que faz alongamento corretivo e até uma ?personal diet?, uma nutricionista, que se o cliente quiser, pode contratar para ter um acompanhamento nutricional que não vai o deixar mais forte ou sarado, mas mais saudável?, conta Marina.

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Este trabalho cabe a Érika Albernaz, 27 anos. Vinda de Minas Gerais logo após se formar em nutrição, ela lembra que teve dificuldades para encontrar trabalho como autônoma, até topar com a Sui Generis. ?O futuro de muitos profissionais liberais parece ser esse: conseguir um mesmo espaço, multidisciplinar, onde as pessoas possam encontrar diversos serviços diferentes, mas que sejam complementares. Querer fazer tudo sozinho, no mercado de hoje, é muito difícil.?

Autônomos têm que buscar diferencial

Segundo a consultora do Sebrae Márcia Giubertoni, salvo algumas poucas categorias de profissionais liberais, como os médicos, a maioria dos autônomos viu a possibilidade de uma boa condição financeira minguar se comparado com a situação que se encontrava há pouco mais de uma década.

Para muita gente, diz, abrir mão do seu status, prestígio e das condições de trabalho pesa até mais do que as próprias dificuldades econômicas. Mas um segmento cada vez maior dos profissionais liberais vai gradualmente reconhecendo que é imprescindível se adaptar à nova situação de modo a enfrentar seus desdobramentos e não ser tomado de surpresa pelas mudanças da maré do mercado.

?Eu gosto muito da minha profissão, mas fui obrigada a mudar o perfil do que fazia para poder melhorar meus rendimentos?, diz a fisioterapeuta Kelly Hytomi Watanabe dos Santos, 29 anos. Ela conta que durante alguns anos teve uma clínica de fisioterapia, que sobrevivia através de convênios médicos. ?Neste formato se ganha muito mal, pois os convênios pagam pouco. Então fechei a clínica e fui para onde o dinheiro está: na área de atendimentos particulares.?

Kelly apostou, então, em cursos práticos de acupuntura e massagem e começou a atender em um grande salão de beleza no bairro onde mora. ?Percebi que era preciso estar sempre me reciclando para poder oferecer um diferencial?, diz.

Depois de pouco tempo da mudança, ela já aumentou o espaço para atendimento dentro do salão e já contratou uma funcionária. ?Percebi que o segredo para qualquer profissional liberal é ir atrás do cliente, tentar parcerias. E ser uma pessoa bem relacionada sempre ajuda?, enumera.

Márcia Giubertoni cita ainda como características para se dar bem no mercado: exigência de qualidade naquilo que se propõe a ser feito, iniciativa, autoconfiança e comprometimento. ?Para um autônomo vale o mesmo que para um empresário. E além de um estudo aprofundado do negócio, é essencial fazer a pergunta: o que eu ofereço nos meus serviços que o meu concorrente não tem??, ensina. (DD)