Privadas do direito de ser mães

Hoje é Dia das Mães. Enquanto uma grande parcela das mulheres está comemorando a data festiva ao lado de seus rebentos, outras tantas vivem um dia de tristeza, já que foram ou estão privadas do direito de ser mães. Segundo as estatísticas, de 10 a 15% dos casais têm dificuldades de ter filhos e em 30% o problema é feminino. As dificuldades de engravidar podem estar relacionadas à idade da mulher, alterações na ovulação, lesões nas trompas de falópio e incidência de endometriose.

Dentre as causas principais, está uma que é característica dos novos tempos: o envelhecimento dos óvulos. "É comprovado que, a partir dos 35 anos, os óvulos começam a envelhecer e a qualidade reprodutiva a cair. Com 20 anos, uma mulher tem 70% de chance de engravidar. Com 40, as chances caem para 10%", explica o médico especialista em reprodução humana Álvaro Pigatto Ceschin, da Felicittá Centro Médico da Mulher. Ele é autor do livro Filhos! Invista neste sonho e trabalha para realizar o sonho de muitas mulheres que têm dificuldades de engravidar.

A emancipação da mulher trouxe com ela a briga por um espaço no mercado de trabalho. Hoje, as mulheres estudam mais, trabalham mais e, muitas vezes, em função dessas atribuições, acabam protelando a gravidez. "É um direito delas, mas esperar demais pode trazer dificuldades de engravidar", alerta o médico.

Além do envelhecimento natural da célula reprodutiva, ao longo do tempo a mulher fica mais suscetível a contrair doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), que também podem interferir na fertilidade, especialmente refletindo em problemas nas trompas de falópio.

Conservação

O grande problema do envelhecimento dos óvulos é que a medicina ainda não encontrou um método eficiente para conservá-los dentro ou fora do corpo da mulher, diferente dos espermatozóides e dos embriões. "No caso dos embriões, eles só podem ser produzidos para o congelamento se o casal tem uma relação estável", adverte o médico.

Como os óvulos ainda não podem ser congelados – por questões estruturais, acontecem quebras cromossômicas – estão sendo desenvolvidas pesquisas de um outro método de conservação. Há 10 anos, Álvaro, em parceria com o médico Carlos Gilberto Almodin, trabalha na busca de uma solução eficiente para a manutenção dos óvulos. Na verdade, a pesquisa está relacionada à oncologia, já que visa preservar a fertilidade de mulheres que têm câncer, se recuperam e desejam ter filhos. "Com o tratamento contra o câncer, as mulheres têm seus ovários prejudicados e não podem ter filhos. Estamos lutando para que no futuro elas possam", diz Álvaro. O método que está sendo testado consiste na retirada de um dos ovários antes do início da quimioterapia. Esse ovário é cortado em lâminas que são congeladas para o posterior implante no ovário hospedeiro da mulher. "Fomos bem sucedidos nos experimentos com animais e recebemos autorização para testá-los em humanos. Se der certo, no futuro, o tratamento poderá se estender a mulheres que desejem preservar seus óvulos." À luz da ciência, pode ser uma luz no fim do túnel. Por ora, o ideal é que as mulheres não protelem excessivamente a gravidez, sob o risco de não conseguirem ter o prazer de ser mães. A medicina reprodutiva já avançou o suficiente para produzir a mãe mais velha do mundo: a romena Adriana Iliescu pariu Elisa Maria com 67 anos, gerada a partir de um óvulo doado. Entretanto, o caso gerou muita polêmica pelo mundo. Para o Conselho Federal de Medicina, os tratamentos para gravidez são considerados possíveis até os 44 anos, já que entre mulheres de 45 anos, a taxa de gravidez é de apenas 2,9% e a taxa de bebês nascidos saudáveis é de apenas 1%.

Inseminação artificial resolve 20 a 25% dos casos

Ao contrário do que possa parecer, a chance de um casal sem qualquer tipo de problema de fertilidade engravidar é de apenas 20% em um mês. Isto porque a mulher ovula uma vez ao mês e os frágeis espermatozóides precisam encontrar esse óvulo em um período específico. Justamente por isso, algumas mulheres que não conseguem engravidar precisam apenas de uma relação sexual assistida para realizar o sonho de ser mães. "Dependendo do controle de ovulação, recomendamos que o casal tenha relações no período ideal", explica o médico Alessandro Schiffner, do Androlab. Muitas vezes, o procedimento soluciona o problema.

Entretanto, há casos que requerem um tratamento mais aprofundado, como a inseminação artificial. O método consiste na introdução mecânica de espermatozóides no canal uterino da mulher. "Ao contrário do que possa parecer, este não é considerado um tratamento caro e costuma solucionar de 15 a 20% dos problemas, explica o médico César Augusto Cornel, do Embryo Centro de Reprodução Humana. Um tratamento desses custa em torno de R$ 1 mil.

Malfadada essa tentativa, o caminho seguinte é a fecundação in vitro, o chamado "bebê de proveta". O método consiste na retirada do óvulo da mulher para que ele seja fecundado em uma lâmina (antes era utilizada a proveta). Uma vez fecundado, o embrião é implantado no útero da mulher. "A chance de sucesso a partir desse método varia de 35 a 40%. Ele é mais caro, mas também mais eficiente", diz Cornel. Um tratamento deste tipo pode custar até R$ 18 mil, mas há casos em que pode custar bem menos.

Doação

Segundo Schiffner, há casos de inseminação in vitro mais acessíveis – podem custar até R$ 4,5 mil. "Depende de cada caso, mas pode acontecer", diz. O tratamento também pode sair gratuitamente, desde que a mulher concorde em doar parte de seus óvulos para um banco, o que é autorizado pelo Conselho de Medicina. "Esses casos ainda não são comuns, pois as mulheres ficam ressabiadas ao espalhar seu material genético. Mas fazendo isso, elas podem contribuir para a felicidade de outras mulheres."

Pré-nupcial diminui chance de complicações

Antes do casamento, os médicos recomendam que os casais passem pelo exame pré-nupcial. Através deste exame, muitos problemas que podem comprometer a fertilidade do casal podem ser detectados. E, na maioria dos casos, com o prognóstico feito, as chances de evitar complicações no futuro são grandes.

Segundo o sócio-diretor do Laboratório Frischmann Aisengart, Henrique Lerner, o exame pré-nupcial tem a finalidade de verificar três aspectos. "Verificamos a saúde do casal, a saúde para a fertilidade e a saúde da mulher para a gestação", explica.

A quantidade de exames aos quais o casal é submetido depende das solicitações dos médicos, mas existem os mais comuns, como o hemograma, que pode determinar, por exemplo, a anemia. Apesar de não ser um problema diretamente ligado ao aparelho reprodutor, pode debilitar o organismo a ponto de atingir a fertilidade.

O casal também costuma ser submetido ao VDRL, que pode detectar a sífilis e a outro exame, usado para detectar a clamídia. "Essas doenças às vezes não têm sintomas nas mulheres, em especial, e podem comprometer a fertilidade. A clamídia pode causar sérios problemas nas trompas, que podem causar a infertilidade", alerta. Por vezes, os médicos pedem exames que detectam a hepatite e a aids também, bem como exames de urina para verificação de possíveis infecções. "Outro exame importante relacionado à fertilidade é o HPV. Uma mulher que tem o papiloma vírus corre risco de desenvolver câncer no colo do útero, onde o bebê é gerado.?

Fertilidade

Entre os testes para a fertilidade está o espermograma, para os homens, que determina a contagem de espermatozóides, e o de cariótipo, para o casal. Através da análise cromossômica, é possível constatar possíveis alterações. "Há mulheres que têm falhas que resultam, por exemplo, na interrupção seguida da gravidez", diz Lerner. Há ainda os exames para a gestação, que detectam problemas que posteriormente podem provocar a saúde do feto, como a rubéola e a toxoplasmose. E como diz o dito popular, prevenir é melhor que remediar. (GR)

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