Cerca de 2.000 presos promoveram uma rebelião em uma prisão na capital do Iêmen, após tomarem vários guardas como reféns. Os prisioneiros juntaram-se aos manifestantes que pedem a saída do presidente do país, Ali Abdullah Saleh. E pela primeira vez desde que os protestos contrários ao governo começaram em meados de fevereiro, pichações contra o presidente surgiram em sua terra natal, a vila agrícola de Sanhan fora de Sanaa. Segundo a polícia, foram abertas investigações para apurar quem está por trás das palavras de ordem pintadas nos muros da aldeia e que pedem a saída do regime.
A rebelião na prisão central da capital, Sanaa, eclodiu na segunda-feira, quando os prisioneiros colocaram fogo em seus cobertores e colchões e ocuparam o pátio principal da instalação, disse um funcionário. Os guardas dispararam gás lacrimogêneo e tiros para o ar, mas não conseguiram dominar os prisioneiros, acrescentou o funcionário, falando sob condição de anonimato. Ele disse que os soldados reforçaram a segurança fora da prisão nesta terça-feira e que alguns detentos ficaram feridos durante a rebelião. Segundo um oficial, o motim ainda estava em andamento nesta terça-feira.
O Iêmen tem sido abalado por semanas de protestos contra Saleh, inspirado nas recentes revoltas no Egito e na Tunísia que culminaram na derrubada dos governantes dessas nações.
Nesta terça-feira, várias mulheres se juntaram a uma manifestação na cidade portuária de
Aden, no sul do país, após um jovem manifestante ter sido gravemente ferido por uma bala na cabeça
durante um comício na região no dia anterior. Autoridades locais afirmaram que 25 manifestantes foram presos durante manifestação de segunda-feira.
Além disso, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas nas cidades da província Ibb, no sul, pedindo ao governo para que julgue os responsáveis por um ataque mortal, realizado no domingo. Uma pessoa foi morta e 53 pessoas ficaram feridas no confronto.
As manifestações se espalhavam nesta terça-feira por todo o Iêmen, em apoio às reivindicações dos manifestantes Ibb. Na província Dhamar, no sudeste do país, milhares foram às ruas pedindo a renúncia de Saleh. Houve grandes manifestações também na província montanhosa de Shabwa, onde acredita-se que esteja escondido o clérigo radical norte-iemenita Anwar al-Awlaki, e também nas províncias de Hadramawt e Taiz.
Em Sanaa, medidas de segurança foram ampliadas nesta terça-feira e o exército colocou carros blindados nas intersecções das principais ruas e nas vias que conduzem ao gabinete do presidente, o Banco Central, à Universidade de Sanaa e a prédios do governo.
Os presos rebelados em Sanaa também exigiam melhores condições, permissão para receber cestas de alimentos, remédios e dinheiro de suas famílias, além de pedirem autorização para fazer chamadas telefônicas sem restrições a familiares.
Na tentativa de acabar com a escalada de protestos, o presidente convocou um diálogo nacional após reuniões com políticos do alto escalão e chefes de segurança na segunda-feira. A agência de notícias estatal disse que a conferência seria realizada nesta quinta-feira e que incluiria milhares de representantes de todos os grupos políticos do Iêmen. Mas a oposição iemenita rapidamente rejeitou o apelo, com o líder da oposição Yassin Said Numan dizendo que não haveria diálogo, salvo se Saleh concordar em sair do poder até o final do ano.
Saleh está no poder há 32 anos e não conseguiu reprimir os protestos mesmo com a promessa de não disputar a eleição novamente em 2013. As informações são da Associated Press.