Nascido e criado em um tempo em que os homens entendiam ter evidente ascendência sobre as mulheres, o príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª, acostumou-se a viver à sombra, até mesmo caminhando alguns passos atrás da monarca britânica.

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Mais longevo consorte da história do Reino Unido, ele morreu nesta sexta-feira (9) em Londres, aos 99 anos. A causa oficial ainda não foi divulgada, mas o príncipe havia passado por procedimentos cardíacos nos últimos meses.

“É com profunda tristeza que Sua Majestade a Rainha anuncia a morte de seu amado marido, Sua Alteza Real, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo”, disse o Palácio de Buckingham em um comunicado.

“Sua Alteza Real faleceu pacificamente esta manhã no Castelo de Windsor. Novos anúncios serão feitos no devido tempo. A Família Real se une às pessoas ao redor do mundo em luto por sua perda.”

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Philip nasceu em 1921, na ilha grega de Corfu, em um lar marcado por infortúnios.

Seu avô, o rei Jorge 1º da Grécia, foi assassinado. O primo, o rei Alexandre, morreu aos 27 anos de infecção após ser mordido por um macaco.

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Ligada ainda à coroa dinamarquesa, a família de Philip foi forçada a se exilar quando ele ainda era um bebê após uma insurreição militar. Deixou a Grécia em uma caixa de frutas improvisada como berço. A mãe, surda, foi diagnosticada com esquizofrenia.

Philip passou pela França e, enfim, foi viver na Inglaterra com a avó materna, por sua vez neta da rainha Vitória (1819-1901) -o que faz dele um primo distante de Elizabeth.

Em território inglês, a sorte do jovem grego começaria a mudar. Estudou no país e ingressou na Marinha.

Em 1939, conheceu Elizabeth durante uma visita da princesa à academia naval britânicas, na qual o então estudante foi destacado para ciceronear a herdeira do trono. Passaram a trocar correspondências.

Lutou na 2ª Guerra Mundial no Mediterrâneo e no Pacífico. Em 1943, salvou a própria vida e a de companheiros ao construir uma falsa embarcação que atraísse a atenção de um ataque aéreo alemão, permitindo que o destróier HMS Wallace, onde estavam os britânicos, escapasse.

Não foi sem resistências que o militar orgulhoso, formado no seio da aristocracia do império britânico da primeira metade do século 20, resignou-se a um papel secundário.

Ao casar-se com Elizabeth em 1947, Philip se naturalizou britânico, converteu-se à fé anglicana e abdicou de seus direitos a tronos estrangeiros. Virou duque de Edimburgo, o principal de seus muitos títulos.

Com a ascensão de Elizabeth ao trono, Philip afastou-se das atividades da Marinha. Na cerimônia da coroação da mulher, transmitida ao vivo em 1953, ajoelhou-se e declarou ser seu vassalo, prometendo apoiá-la e adorá-la.

Passou a dedicar as décadas seguintes a giros pelo exterior, eventos oficiais e atividades filantrópicas, muitos deles aborrecidos. Presidia centenas de entidades do tipo.

Em maio, o Palácio de Buckingham anunciou que o príncipe se afastaria da vida pública, aposentando-se em setembro de 2017.

Um de seus contratempos como figura apenas acessória do trono foi a decisão de que a casa real não teria o seu sobrenome, Mountbatten, continuando a ser Windsor, da família de Elizabeth.

“Não sou nada além de uma maldita ameba. Sou o único homem no país que não pode dar seu nome a seus filhos”, lamentou o príncipe à época.

Em 1960, ele teve uma desforra parcial graças a uma nova regra que criou o sobrenome Mountbatten-Windsor, aplicável a parte da família.

O príncipe também teve alguns desgostos com o herdeiro Charles, criticado pelo pai amante de esportes pela pouca destreza e introspecção.

Philip deixa outros três filhos -Anne, Andrew e Edward-, netos e bisnetos.

ESTILO

Ao longo das sete décadas de dedicação à agenda monárquica, o duque de Edimburgo atraiu para si controvérsias.

Acumularam-se relatos de comentários de mau gosto e descortesias deles à cultura e à sociedade de outros países, muitos deles domínios ou ex-colônias do Reino Unido.

Ao ver um presidente nigeriano com roupas típicas, brincou que o africano parecia pronto para dormir.

Na única visita do casal real ao Brasil, em 1968, Philip perguntou a um almirante cheio de medalhas no peito se ele era comandante do Paranoá, lago artificial que banha Brasília.

Ao ser apresentado a um gim brasileiro produzido sob licença britânica, o príncipe reclamou: “Não vejo a hora de ser cassada essa autorização”.

“Eu sou rude e sem maneiras e digo muitas coisas que depois percebo que devem ter machucado alguém. Aí me encho de remorso e tento consertar”, afirmou certa vez.

Visto há anos com reservas por muitos britânicos, o jeito Philip de ser ganhou mais inimigos mundialmente graças à Netflix. Na série “The Crown” é um teimoso e ressentido Philip quem muitas vezes faz as vezes de vilão na falta de guerras ou de um movimento republicano relevante que agite a trama.

Com a morte do marido da rainha, estão distantes no horizonte do Reino Unido novos homens consortes, salvo abdicações ou tragédias.

A linha sucessória do trono tem Charles, 68; William, 35; e George, 3. É sobre uma eventual primogênita do hoje pequenino príncipe que recaem as perspectivas de um novo consorte para acompanhar a rainha da Inglaterra.