O primeiro dia de Donald Trump como 45º presidente dos Estados Unidos dividiu especialistas em relações internacionais sobre como será a condução do novo governo. Seu discurso de posse repetiu o tom nacionalista e agressivo da campanha eleitoral, o que – combinado às indicações polêmicas à sua equipe e declarações pós-eleições – dirimiu esperanças de que o presidente Trump será diferente do candidato que travou uma disputa belicosa contra a democrata Hillary Clinton na corrida pela Casa Branca.
Trump, porém, fez um discurso genérico e de teor populista, no qual falou em linhas gerais sobre como pretende governar, sem antecipar as primeiras medidas. Assim, segue difícil distinguir o personagem de campanha do presidente, o estilo confrontador do empresário que radicaliza porque sabe que terá que fazer concessões.
Na dúvida, a tendência é que os mercados enfrentem grande volatilidade nos próximos dias, como comentou o analista Silvio Campos Neto, da Tendências.
A primeira fala de Trump como presidente prometeu colocar os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar, tocou em promessas de investimentos em infraestrutura, ressaltou que toda decisão, inclusive medidas tarifárias, será para beneficiar famílias e trabalhadores americanos e deixou claro quais serão as regras de seu governo: compre dos Estados Unidos e empregue americanos.
A linha foi dura, no estilo da campanha, e reforçou a tendência, vista com maior consenso pelo mercado, de guinada ao protecionismo. Um analista de uma consultoria internacional, que fez comentários sob confidencialidade, classificou o discurso de Trump como um retorno à Europa nacionalista dos anos 30, combinado à narrativa de um líder de alguma republiqueta de bananas. “Uma coisa é fazer campanha no Meio-Oeste dos Estados Unidos, outra é fazer campanha como presidente do país”.
Professor e cientista político do Insper, Fernando Schüler ponderou. Considerou que Trump, como grande comunicador, não perdeu a oportunidade de fazer do discurso uma peça publicitária para os eleitores que o colocaram no poder. Para ele, há muito de retórica no radicalismo do novo presidente e a realidade – ou seja, as pressões vindas do próprio Partido Republicano, as dificuldades em se implementar medidas anti-imigratórias e a força das multinacionais contra o protecionismo – tende a produzir inflexões. “Sou um pouco cético em relação ao risco Trump porque a realidade se impõe. Não acredito que será um governo de extrema-direita, um governo irresponsável”, comenta.