A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, enviou na quarta-feira, 20, ao Congresso um projeto de lei para convocar eleições gerais em 2020. O texto, porém, não fixa uma data, que será marcada somente depois da formação de um novo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Senadora conservadora, ela assumiu o poder no dia 12, dois dias após a renúncia de Evo Morales.

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A Constituição boliviana estabelece prazo de 90 dias para uma eleição presidencial, a contar da nomeação do interino. Jeanine, que se declarou presidente em uma sessão sem quórum, depois de todas as autoridades acima dela renunciarem, não se comprometeu a cumprir este prazo. Suas primeiras medidas foram nomear uma nova cúpula milita, um novo gabinete e novos embaixadores.

O envio de seu projeto ao Congresso ocorre em meio a forte pressão externa por uma definição no processo eleitoral. As delegações da Colômbia e do Brasil encabeçaram ontem uma proposta de resolução na Organização dos Estados Americanos (OEA) para cobrar a convocação de eleições “urgentemente” e o estabelecimento de um “calendário eleitoral claro”.

O texto, aprovado pelo Conselho Permanente da OEA, com voto a favor de 26 dos 34 países, também prevê o envio de apoio técnico para auxiliar nos trâmites eleitorais.

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Jeanine disse que a convocação de novas eleições será monitorada por organizações internacionais e outras instituições, como a Igreja Católica, que estão facilitando o diálogo entre as partes. Um novo TSE deve ser formado porque as autoridades que compunham o órgão foram detidas.

A renúncia de Evo foi seguida pela saída em cascata do vice e demais autoridades que poderiam substituí-lo constitucionalmente. O ex-presidente, que partiu para o exílio no México, disse ser vítima de um golpe de Estado, em consequência da pressão das Forças Armadas bolivianas para que ele deixasse o poder após semanas de protestos contra fraudes no primeiro turno da eleição, em outubro.

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Uma auditoria da OEA apontou, antes da renúncia, “graves irregularidades” no processo eleitoral que colocaram em xeque a legitimidade da reeleição de Evo – seria seu quarto mandato como presidente. Em 2016, ele já havia sido derrotado em um referendo que rejeitou a possibilidade de Evo concorrer mais uma vez. O presidente, no entanto, conseguiu ser candidato graças a uma decisão judicial.
Nas eleições de outubro, Evo obteve 47% dos votos. Em segundo lugar ficou Carlos Mesa, com 36,5%. O partido de Jeanine, Unidade Democrata, obteve apenas 4,24% dos votos.

Violência

Os países da OEA também pediram que todos os atores políticos e civis da Bolívia, incluindo autoridades e Forças Armadas, cessem a violência nas manifestações. Os membros da organização também fizeram um “apelo às autoridades bolivianas para que garantam a proteção dos direitos humanos”.

Nos últimos dias, conflitos na região de Cochabamba e na cidade de El Alto aumentaram o caos na Bolívia. Na terça-feira, a polícia e os militares invadiram a refinaria de Senkata, ocupada por partidários de Evo que impediam o fornecimento de combustível para La Paz. A invasão deixou seis mortos, ampliando para 30 o número total de mortes nos distúrbios após as eleições.

O governo interino boliviano divulgou ontem um áudio em que um homem, cuja voz é atribuída a Evo, instrui um líder sindical a manter os bloqueios que desabasteceram La Paz. O país precisou recorrer à importação de gasolina de países vizinhos e implementou subsídios à carne de frango para evitar uma disparada dos preços. (Beatriz Bulla com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.