O presidente do Egito, Hosni Mubarak, nomeou um vice-presidente neste sábado pela primeira vez desde que assumiu o poder, há 30 anos, e também um novo primeiro-ministro, num possível passo para estabelecer um sucessor em meio ao maior desafio que já enfrentou em seu governo.
Mubarak escolheu para o cargo de vice-presidente seu chefe de inteligência e homem de confiança Omar Suleiman. Para primeiro-ministro, foi nomeado o ministro da Aviação Civil, Ahmed Shafiq. Enquanto isso, protestos em massa continuam a assolar o Egito, com milhares de manifestantes enfrentando policiais que tentavam invadir o prédio do Ministério do Interior, no centro do Cairo.
Acredita-se que Mubarak esteja cogitando apoiar seu filho Gamal para sucedê-lo, possivelmente já nas eleições presidenciais planejadas para o final deste ano. Há, no entanto, uma forte oposição popular a uma sucessão hereditária.
A escolha de Suleiman para vice-presidente responde uma das mais intrigantes e antigas questões políticas no Egito: quem vai suceder o presidente de 82 anos? Como Mubarak, Suleiman tem um histórico militar. As poderosas forças armadas do país deram ao Egito seus quatro presidentes desde que a monarquia foi derrubada, há 60 anos.
O exército egípcio, de 500 mil homens, há tempo tem o respeito dos cidadãos, que o consideram a instituição pública menos corrupta e mais eficiente do país, principalmente se comparada com as forças policiais, famosas por sua violência e corrupção. Os militares, por sua vez, consideram-se os garantidores da estabilidade nacional e acima de disputas políticas, além de leais tanto ao governo quanto ao que consideram ser os interesses da população em geral.
Não está claro se a instabilidade crescente no Cairo e em todo o país acabará por fazer com que o exército abandone sua postura tolerante para com os manifestantes ou sua lealdade para com o regime. Mas a instituição tem claramente projetado uma imagem de ser o poder último do país, tendo se movimentado rapidamente para proteger o prédio da rede de televisão estatal, o Parlamento, o escritório do primeiro-ministro e o Museu Egípcio, abrigo de peças de até 5 mil anos.
Ontem, o governo deslocou o exército para grandes cidades egípcias, pela primeira vez desde 1986, após a polícia ter sido forçada a abandonar áreas importantes da capital em meio a intensos protestos. Serviços limitados de telefonia celular voltaram, mas o acesso à Internet ainda estava indisponível. As informações são da Dow Jones.