Apesar de não ter conseguido evitar que Portugal precisasse de socorro financeiro, o atual primeiro-ministro José Sócrates desafia todas as probabilidades e está numa disputa acirrada com seu principal rival nas pesquisas de opinião para as eleições de domingo.
Os últimos levantamentos mostram o opositor Partido Social Democrata (PSD) com entre 35% e 38% das intenções de voto, enquanto o Partido Socialista (PS) têm entre 30% e 32%. O dado é uma forte recuperação em relação a alguns meses atrás, quando o índice de aprovação do partido de Sócrates ficou bem abaixo do registrado pelo principal rival.
Um resultado eleitoral apertado pode complicar a implementação das duras reformas ligadas ao pacote de resgate de 78 bilhões de euros concedido pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a Portugal, já que nenhum dos partidos deve conseguir uma maioria clara.
A disputa apertada em Portugal contrasta com as eleições em outros países da zona do euro com problemas financeiros, onde os partidos governistas têm sido punidos pelas duras condições econômicas ou retirados do poder após aceitar ajuda financeira, como aconteceu na Irlanda.
Na Espanha, o partido governista, o Socialista, saiu derrotado das eleições regionais realizadas no mês passado, na medida em que a estagnação econômica e o crescente desemprego se tornaram a questão central das campanhas eleitorais. O governo grego viu seus índices de aprovação despencarem e uma pesquisa de opinião recente mostrou que o opositor Nova Democracia conseguiu uma pequena margem de liderança em relação aos Socialistas pela primeira vez em três anos.
Já em Portugal, Sócrates conseguiu usar todo o seu poder de persuasão para responsabilizar a oposição pelo impasse político que provocou o pedido do pacote de ajuda, disseram analistas políticos. Primeiro-ministro desde 2006, Sócrates atua no momento como premiê interino, depois de o Parlamento ter rejeitado seu último pacote para reduzir o déficit orçamentário português. Ele renunciou no final de março e, semanas mais tarde, pediu um socorro financeiro quando as reservas de caixa secaram.
“O PSD iniciou a crise política para forçar o país a pedir ajuda externa”, disse Sócrates na terça-feira. “O programa do PSD só poderia acontecer com a ajuda do FMI”, acrescentou. O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, apontou Sócrates como o responsável pela lamentável condição financeira de Portugal. “Não é normal que a pessoa que levou o país à bancarrota seja digno de confiança novamente”, disse.
O analista político da Universidade de Lisboa, Antonio Costa Pinto, afirma que Sócrates convenceu alguns dos eleitores que Passos Coelho vai impor um programa de austeridade mais agressivo, que pode enfraquecer o Estado. Os portugueses tradicionalmente votam em partidos mais à esquerda desde 1975, quando a ditadura chegou ao fim e tiveram início as eleições legislativas.
Passos Coelho, que nunca assumiu nenhum posto no governo, propõem mais privatizações e cortes mais drásticos nos gastos públicos. Sócrates, por sua vez, prometeu continuar a implementar as medidas de austeridade que já tiveram início. As informações são da Dow Jones.
