A discrepância nas relações candidatos/vagas em certos cursos ofertados pelas universidades leva ao questionamento sobre como as escolhas estão atreladas a aptidões pessoais e de que forma a empregabilidade é levada em conta pelos alunos que prestam o vestibular. Seria a pouca concorrência para determinadas profissões pura falta de conhecimento sobre sua aplicabilidade e do mercado que aguarda seus formandos? Alguns professores que comandam cursos menos procurados, porém de grande importância para o mercado, acham que sim. Segundo eles, há pouco esclarecimento até mesmo entre áreas conhecidas e, nas menos comentadas, a maior parte dos estudantes demora a perceber seus dotes.
A professora Janice Cristine Thiel, diretora dos cursos de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), percebe que a habilitação que envolve apenas a língua portuguesa tem sofrido grande diminuição na procura. O motivo seria a atribuição que lhe é dada de servir tão-somente para formar professores. ?As pessoas têm visão muito limitada desse profissional e esse equívoco, aliado à visão de baixa remuneração, tem feito com que muita gente opte por outras áreas. Mas, na verdade, a atuação do profissional de Letras está presente em todas as áreas, porque todas elas dependem do nosso instrumento de trabalho, que é a palavra?, defende a professora.
Segundo ela, apesar de a sala de aula ainda ser o destino de cerca de 60% dos formandos, o campo de trabalho para a área se expande cada vez mais. ?Podemos atuar em empresas, indústrias, como assessores culturais, lingüísticos, revisores de texto, desenvolvendo projetos e elaborando palestras?, cita. Outra atuação bastante promissora é para os que optam pelo curso no formato bilíngüe (Letras Inglês/Português ou Espanhol/Português), uma vez que muitos atuam como tradutores, atividade bastante requisitada no mundo globalizado. ?Isso tem feito a procura pela dupla licenciatura aumentar e as pessoas geralmente terminam o curso e até engatam em uma pós-graduação específica na área. Recebemos inúmeras solicitações para indicar esses profissionais?, afirma. No curso de Letras, os alunos estudam os aspectos semânticos, lingüísticos e textuais da língua. Tradução também entra no currículo da graduação, assim como a literatura.
Física
Outra área que carrega o estigma dos baixos salários atrelados ao futuro em sala de aula é a Física. No entanto, o professor Fernando Pablo Dezecchi, que coordena o curso da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que a formação tem muito a oferecer, principalmente para quem opta pela pesquisa. O problema são os velhos conceitos que atrelam a imagem desse profissional a gênios e superdotados. ?É um mito, porque essa é uma profissão como qualquer outra?, garante. No entanto, o paradigma ainda faz com que o curso seja um dos menos concorridos em boa parte das universidades.
Ele defende que a Física é de fundamental importância para o desenvolvimento da Ciência – e, por isso, deveria ser mais valorizada. ?A Física é básica para desenvolver novas tecnologias que tenham impacto na sociedade. Além disso, está presente em diversas áreas, principalmente nas engenharias.? Na área educacional, a carência por professores é ainda maior, principalmente em função dos baixos salários – infelizmente, segundo o coordenador, eles são uma realidade. ?Mas não faltam vagas.?
Quem pensa em optar por esse curso tem boas notícias pela frente. Nos países onde o desenvolvimento industrial é grande, o físico é bastante absorvido pelas corporações. ?É tendência mundial que isso aumente ainda mais e que o Brasil siga este rumo?, adianta Dezecchi, enfatizando que o processo já começou em território nacional e que deve transformar o físico em um profissional ainda mais requisitado.
UFPR oferta o único curso de Gestão da Informação do país
O único curso de Gestão da Informação do país, oferecido pela UFPR, tem suas atribuições ainda pouco conhecidas dentre os estudantes. É o que acredita a vice-coordenadora, professora Lígia Kraemer, que relaciona o conteúdo da formação à tomada de decisões na área empresarial. ?Quem precisa da gestão da informação é quem está nas empresas e sente necessidade de monitorar a informação e os concorrentes. O nosso curso estuda o dado, o conhecimento, do ponto de vista de sua aplicação nas organizações?, explica a professora.
Criado em 1998, veio para substituir o curso de Biblioteconomia, que apresentava queda na procura, mas com currículo completamente diferente e formando o aluno para outra área de atuação. O gestor formado por esse curso pode fazer desde uma simples organização das informações usadas pelas empresas quanto sistematização e análise de dados para tomada de decisões. ?É esse profissional que aprende a identificar que informação a empresa precisa, seja ela qualitativa, quantitativa, estatística, sobre clientes, aquelas contidas nos livros ou, ainda, a que está na cabeça das pessoas. Ele sabe as fontes que lhe fornecem esses dados e, captando-os, dá formato a eles.?
A gestão da informação ainda engatinha como formação profissional porque existe só um curso de graduação no Brasil – a habilidade é mais trabalhada nas pós-graduações. Por outro lado, isso garante que muitos profissionais sejam vistos de forma diferenciada. ?O mercado é bom para aqueles que vão atrás de seu espaço e mostram suas habilidades?, enfatiza. A professora acredita que, a partir do momento que mostram o que podem fazer pelas empresas, são bastante requisitados. ?O gestor é essencial dentro da equipe em função de sua formação ampla, que foca o contexto empresarial como um todo.? Por conta disso, muitas empresas que antes optavam por profissionais de formações diversas para atuar nessa área agora têm buscado o profissional especializado. ?Os alunos que se formaram conosco atuam em empresas das mais diversas áreas, boa parte delas no Paraná?, acrescenta Lígia. (LM)
Mesmo em franca expansão, Estatística tem pouca procura
Há algum tempo ela se desvinculou da matemática e hoje tem currículo próprio, mas muita gente ainda não sabe. Estamos falando da Estatística, área em franca expansão e que faz parte do cotidiano de todas as corporações. Por isso mesmo, defende a professora do Departamento de Estatística da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Isolde Previdelli, a procura ainda tímida pelo curso promete crescer nos próximos anos. ?Acredito que, na nossa região, a procura ainda é pequena por falta de tradição, bem como pelo desconhecimento da existência de um curso específico em Estatística?, afirma. No sul do Brasil, além da UEM, somente outras duas universidades públicas oferecem o curso: a UFPR e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Parte considerável dos bacharéis em Estatística são contratados em centros mais desenvolvidos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, atuando principalmente em instituições financeiras, mais especificamente na área de análise de risco. Porém, para Isolde, a demanda por esse profissional é muito maior do que se imagina. O mercado está aberto nas instituições públicas, prevendo demandas ou apurando resultados de censos, por exemplo; em indústrias, com planejamento e controle do processo produtivo, além de verificação dos padrões de qualidade; em empresas de pesquisa e opinião de mercado, pautando decisões políticas e econômicas; hospitais e instituições de pesquisa médica; bancos e companhias de seguro, destaca a professora.
Ela afirma ainda que, mesmo no interior, os profissionais têm tido boa absorção pelo mercado e indica um salário inicial atraente, de cerca de R$ 2 mil. ?Creio que o grande avanço da estatística nesta última década é devido à sintonia com o mercado de trabalho e porque os empresários estão começando a ver sua participação nas tomadas de decisão?, atribui. ?Sempre digo a meus alunos: sem um computador ou um estatístico ninguém vive mais, porque, para qualquer resultado de pesquisa ou lançamento de um produto no mercado, antes é preciso uma análise estatística.? (LM)
Paixão pelo mar amplia busca por Oceanografia
O coordenador do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Maurício Camargo, aponta para uma área em que a demanda por profissionais é grande, principalmente quanto mais especializados forem. Ministrado integralmente no campus do litoral, em Pontal do Sul, o curso é puxado, com quatro grandes áreas de estudo: a oceanografia química, física, geológica e biológica, acrescidas do aspecto social. No entanto, segundo o professor, procurar o curso é atitude natural para quem se encanta pelas coisas do mar.
Provavelmente é por isso que muitos apaixonados têm feito crescer a procura pelo curso em todo o Brasil (nove instituições oferecem a formação, três delas no sul): ?Temos visto isso crescer em todas elas. Mas, no nosso caso, a profissão está longe de ser saturada. Ainda precisamos de mais oceanógrafos?, garante Camargo. Ele explica que esse profissional está habilitado a trabalhar com qualquer questão que se relacione aos oceanos. ?Um exemplo é quando temos um impacto ambiental provocado por um poluente. O oceanógrafo estuda o alcance, as conseqüências para a produção pesqueira e para a comunidade?, cita. Tudo o que acontece na zona costeira é de sua atribuição. ?Além disso também pode atuar em universidades, como pesquisador ou docente, em empresas privadas, trabalhando com análise de risco ambiental, de potencialidades turísticas ou de pesca, e ainda em empresas públicas. Já existem as que fazem concursos específicos para oceanógrafos.?
Ele explica que boa parte dos profissionais que se formam aqui acabam em outros mercados, como do Rio e São Paulo. O que não significa que não haja o que explorar no Paraná: ?Nosso litoral é pequeno, pouco explorado e pouco aproveitado; por outro lado, é muito preservado e merece toda atenção porque tem potencialidade turística?, diz. (LM)