É indiscutível que, nos últimos tempos, em todo o mundo (e não apenas nos ?tristes tropiques? de Lévy-Strauss) se cavou um fosso profundo entre a política e a ética. O antagonismo, a incompatibilidade entre ambas é mais do que evidente e notória. Em caráter ecumênico, é claro.

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Chega a ser quase inconcebível que, nos áureos tempos da Grécia Clássica, quando pontificava essa ?santíssima trindade? filosófica integrada por Sócrates, Platão e Aristóteles, ética e política chegaram a ser termos quase sinônimos. Uma se confundia com a outra, numa espécie de simbiose conceitual. Ou seria melhor falar em coexistência pacífica?

Hoje, ensina a sabedoria popular que a política é a arte de engolir sapos. Pelo contrário, eu acho que somos nós, cidadãos eleitores, que periodicamente somos forçados a deglutir esses indigestos batráquios que respondem pelo nome de políticos. Não todos, evidentemente. Mas uma ?infinita minoria?, como diriam Jimenez e Ortega y Gasset.

Qual a melhor política? Voltaire respondeu um dia assim a essa indagação: ?É ser honesto?. Mas o imenso Kant fez uma correção sutil: ?A honestidade é melhor do que a política?.

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A verdade é que tanto o gaulês como o teutônico, ao falar em política, tinham em mente a ética. Na sua morfologia e na sua sintaxe. Nenhum dos dois, porém, pensava em sapos ou em qualquer outra espécie de batráquios anfíbios, da família dos Anuros… (Voltaire talvez apreciasse rãs. Sobretudo se acompanhadas de ?escargots?. Além de filósofo, era gastrônomo.)