As fracassadas políticas norte-americanas e de outros governos estrangeiros para a Somália estão piorando a crise no país, em um momento no qual a nação africana enfrenta uma forte insurgência islâmica e o aumento desenfreado da pirataria em sua costa, afirmou nesta segunda-feira (8) o Human Rights Watch (HRW).

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A Somália está em meio ao caos há quase duas décadas e o governo de transição apoiado pelo Ocidente não conseguiu chegar a qualquer tipo de controle sobre o país desde que foi formado em 2004. Esse governo depende de tropas etíopes para sua proteção e perdeu o controle da maior parte do país para os militantes islâmicos.

Segundo o grupo de direitos humanos sediado em Nova York, os Estados Unidos têm se concentrado tanto no combate ao terrorismo que têm negligenciado os problemas do governo somali. “Ao tratarem a Somália, antes de tudo, como um campo de batalha na ‘guerra global ao terror’, os Estados Unidos têm insistido numa política de apoio acrítico ao governo de transição e às ações etíopes, o que resulta numa falta de obrigações que fomenta os piores abusos”, diz o relatório da Human Rights Watch.

O documento afirma que a Comissão Européia tem defendido apoio direto às forças policiais do governo “sem insistir em qualquer ação significativa para melhorar as forças e combater os abusos”. Funcionários do governo norte-americano não comentaram o teor do relatório.

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O grupo de defesa dos direitos humanos também acusou todos os lados do conflito – o governo, as tropas etíopes e os insurgentes islâmicos – por seu comprometimento com crimes de guerra e outros sérios abusos, como disparos indiscriminados contra civis nas fronteiras do país quase que diariamente.

“Os combatentes na Somália infligiram mais danos aos civis do que aos grupos adversários”, disse Georgette Gagnon, diretora da HRW para a África. “Não há uma maneira rápida de consertar as coisas na Somália, mas os governos estrangeiros precisam parar de jogar mais combustível no fogo com políticas incorretas que dão força a abusos contra os direitos humanos.”

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‘Terroristas’

Os Estados Unidos temem que a Somália seja um local usado na formação de “terroristas” e acusam a poderosa facção insurgente conhecida como al-Shabab de acolher os militantes da Al-Qaeda que supostamente explodiram as embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia em 1998.

Recentemente, a Etiópia anunciou que vai retirar suas tropas da Somália até o final deste mês, deixando o governo somali vulnerável aos insurgentes, que capturaram a maioria do sul somali e movem-se livremente na capital do país, Mogadiscio.

Milhares de civis foram mortos ou mutilados por bombas de morteiro, tiroteios de metralhadora e granadas lançados pela insurgência. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Somália tem atualmente 300 mil crianças mutiladas.

Ataques e seqüestros de funcionários de agências de ajuda humanitária resultaram no fechamento de muitos projetos de auxílio. A Somália não tem um governo efetivo desde 1991, quando senhores da guerra derrubaram a ditadura vigente e então passaram a lutar uns contra os outros.