Policiais desalojaram nesta terça-feira dezenas de camponeses sem-terra que haviam invadido plantações de soja em diferentes lugares do país. Não houve incidentes na operação. O oficial de justiça Daniel Vergara, que comandou a ação no distrito de María Auxiliadora, 500 quilômetros a sudeste de Assunção, disse que a polícia prendeu 120 trabalhadores após retirá-los pacificamente de uma plantação de soja.
Outro oficial de justiça, Adler Ferreira, informou que outros 90 camponeses sem-terra foram desalojados sem incidentes de uma fazenda de 20 mil hectares no departamento (Estado) de Misiones, 180 quilômetros ao sul de Assunção.
Vergara disse que os trabalhadores rurais detidos em María Auxiliadora foram transportados em um caminhão para transporte de grãos até a penitenciária de Encarnación, capital do departamento de Itapúa.
Ali ocorreriam os trâmites para acusação judicial pelo delito de usurpação da propriedade privada. "Os invasores não apresentaram resistência, porque eu estava acompanhado por uma grande quantidade de policiais", explicou Vergara.
Os trabalhadores já invadiram 17 plantações de soja, em uma ação rechaçada nesta hoje pelo Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA). Essa posição é contrária à do presidente eleito Fernando Lugo, no que parece ser o primeiro desacordo na cúpula do futuro governo.
O PLRA integra a aliança vencedora nas recentes eleições paraguaias. "O PLRA expressa sua mais firme condenação à invasão de propriedades e a todo ato de violência ou violação das leis", afirmou um comunicado do dirigente Federico Franco, vice-presidente eleito.
O texto "reivindica a proteção do investimento privado" e pede às autoridades que cumpram e façam cumprir as leis com firmeza". Mas pede às forças de segurança que não cometam "excessos desnecessários". O PLRA, de direita, é o principal sustentáculo político da Aliança Patriótica para a Mudança, que levou Lugo à presidência há quase um mês.
Lugo, que viajou hoje ao Uruguai, não comentou essa primeira contradição com seu principal aliado. Luis Aguayo, líder da Mesa Coordenadora de Organizações Campesinas, de esquerda, maior organização do tipo no país, comemorou a divergência, "porque o povo agora sabe que votou equivocadamente nos liberais".