As fortes medidas de segurança colocadas em prática pelo governo de Pequim por causa das Olimpíadas atingiram a Igreja Católica "clandestina" chinesa com a prisão de dois padres na província de Hebei, próxima à capital.

continua após a publicidade

Os dois padres, Zhang Jianlin e Zhang Li, foram presos um mês atrás enquanto se preparavam para partir em peregrinação anual ao Santuário da Virgem de Shenshan, próximo a Xangai, mas somente nesta segunda-feira (14) a notícia foi divulgada pela Fundação Cardeal Kung.

"Ambos os padres desapareceram enquanto estavam nas mãos da polícia chinesa e, após a prisão deles, não tivemos mais notícias", afirmou a fundação em um comunicado enviado à imprensa estrangeira.

Na China, cerca de quatro milhões de fiéis pertencem à Associação Patriótica dos Católicos chineses, que segue a doutrina do Vaticano, mas reconhece o governo de Pequim como autoridade suprema. Segundo alguns observadores, os católicos que freqüentam a Igreja "clandestina" – posto que não está registrada junto às autoridades – são pelo menos o dobro.

continua após a publicidade

A preocupação pela "segurança" dos Jogos é uma prioridade para as autoridades chinesas. O ativista Huang Qi, de 45 anos, que estava ajudando os pais das crianças mortas na destruição de escolas durante o terremoto do último dia 12 de maio, foi preso por recolher provas contra as construtoras e seus protetores políticos.

Alguns dias atrás foram divulgadas as pesadas condenações de 15 membros da minoria étnica uigur, de religião muçulmana: dois deles serão fuzilados. A ameaça de atentados por parte de nacionalistas uigures vem sendo denunciado por Pequim como um perigo concreto.

continua após a publicidade

Lembrando que uma vasta parte da China – quase todo o Tibete e as zonas de população tibetana de outras três províncias – permanece fechada à imprensa, o presidente do clube dos correspondentes estrangeiros no país, Jonathan Watts, declarou que "a paranóia corre o risco de tirar todo o divertimento dos Jogos".

Os hotéis denunciam uma onda de cancelamentos de reservas e as previsões que falavam de quase dois milhões de visitantes dificilmente irão se concretizar nas próximas semanas. Um casal norte-americano que participou de quase todas as Olimpíadas, desde Munique 1972, deverá desistir dos Jogos de Pequim devido à negação de um visto.

O efeito das medidas de segurança recai também sobre o setor comercial. Reuniões, seminários e conferências foram canceladas, frustrando comerciantes habituados a fazer negócios com clientes estrangeiros.

"O ano de 2008 é para mim o pior. Não há sinal dos turistas ocidentais que todos os anos compram em julho e agosto 50 mil estatuetas de natal", disse Jin Zhixun, comerciante de objetos natalinos em Yiwu (paraíso comercial a cerca de 320 quilômetros de Xangai), entrevistado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post.