Pela segunda semana consecutiva, Buenos Aires esteve isolada por grupos de “piqueteiros” que bloquearam ruas, avenidas e os principais acessos à capital argentina por mais de duas horas. O coordenador do Movimento Bairros em Pé, Roberto Baigorria, disse que os protestos são para reivindicar a participação nos planos sociais e de cooperativas do governo.
Ele argumentou que a situação “está complicada devido ao aumento dos preços e à deterioração social que ocorre no país”. É a primeira vez, desde a crise de 2001, que os movimentos de esquerda realizam piquetes no país. Paralelamente, vários militantes sindicais e trabalhadores realizam piquetes para pedir a manutenção de seus postos de trabalho ou para melhorar os salários.
O maior bloqueio foi realizado na rodovia Panamericana, por onde circulam cerca de 700 mil automóveis por dia, localizada ao norte da chamada Grande Buenos Aires, na altura da fábrica de alimentos de capital norte-americano Kraft Foods. Há um mês, a empresa decidiu demitir 86 empregados e dar férias coletivas para outros 36. Os trabalhadores decidiram protestar contra a decisão por meio de piquetes na porta da fábrica, impedindo a entrada dos demais empregados e bloqueando a rodovia.
O presidente da União Industrial da Argentina (UIA), Héctor Méndez, manifestou hoje “preocupação e temor” pelos conflitos sociais e trabalhistas. “Manifestamos nossa preocupação ao governo, que disse entender a situação e prometeu tentar resolvê-la”, disse Méndez à rádio 10. O empresário reconheceu a existência de “uma enorme tensão nas ruas, com pessoas irritadas e bloqueios das vias”. Segundo ele, os conflitos atuais “não fazem bem a ninguém, exceto aos grupos radicais”.
O diretor de Políticas Sociais da UIA, Daniel Funes de Rioja, explicou que “o preocupante no conflito trabalhista é quando a metodologia já não é trabalhista, quando produz uma ruptura da ordem, por piquetes e outros atos que interferem nos direitos de outros”.
Os protestos na Kraft Foods provocaram a intervenção diplomática da Embaixada dos Estados Unidos, que pediu “uma solução duradoura para o conflito”. Uma nota oficial da embaixada afirma que a companhia adota uma política “alinhada com o desejo de promover investimentos norte-americanos no país, que proporcionam bons postos de trabalho para 155 mil argentinos”.
