A vitória do magnata direitista Sebastián Piñera nas eleições para presidente do Chile desperta incertezas sobre as relações exteriores do país, especialmente com países como Bolívia, Peru e Venezuela, segundo analistas. “Na relações de fronteira com nossos vizinhos, (Piñera) gera certas incertezas. Elas poderiam se complicar, principalmente no que diz respeito ao conflito entre Chile e Peru”, disse Marcelo Mella, cientista político da Universidade de Santiago.
No último debate presidencial com seu adversário governista Eduardo Frei, Piñera afirmou que não cederá “nem um metro” de território chileno, numa referência às diferenças do país com o Peru, que em janeiro de 2008 ignorou formalmente o limite marítimo com o Chile e recorreu à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em sede em Haia, para definir a questão.
“Parece que as declarações nacionalistas, com certo chauvinismo, não ajudam a gerar um clima bom para que tenhamos uma boa solução para este conflito, em particular”, disse Mella. Em março, o governo chileno deve responder à ação apresentada pelo Peru contra o país em Haia.
A Bolívia também reclama uma saída soberana marítima, perdida ao aliar-se ao Peru e enfrentar o Chile em 1879. Piñera afirmou que “o território, o mar e a soberania chilena nos pertence e um presidente deve defendê-las sempre”. “Vamos facilitar o acesso da Bolívia a nossos portos para que possam usá-los para o comércio exterior, mas não vamos ceder nenhum território marítimo”, afirmou o presidente eleito.
‘Concertación’ diplomática
A presidente Michelle Bachelet afirmou ter convidado Piñera a acompanhá-la na reunião do Grupo do Rio, em meados de fevereiro, em Cancún, para apresentá-lo aos chefes de governo da região. Os governos da coalizão Concertación, no poder entre 1990 e 2010, melhoraram as relações externas chilenas, especialmente com países latino-americanos, deterioradas durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).
Bachelet se aproximou do Peru e da Bolívia por meio de uma agenda de 13 pontos que inclui a questão marítima. “A mim parece que (Piñera) terá de mudar ou, definitivamente, será um discurso disfuncional para o desenvolvimento de boas relações futuras com o Peru e a Bolívia”, afirmou o cientista político Marcelo Mella.
Outros vizinhos
Sobre a Venezuela, Piñera, que é proprietário da companhia aérea Lan, de um canal de televisão e do time de futebol mais popular do Chile, disse que “não é uma democracia, pois não se respeita a separação de poderes e não há alternância de poder”. Cuba é descrita por ele, sem rodeios, como uma ditadura.
O presidente peruano, Alan García, foi um dos primeiros a cumprimentar Piñera pela vitória e expressou sua disposição “para realizar um diálogo direto e fluido que permita trabalhar em diversas iniciativas para enriquecer nossa valiosa relação bilateral”.
Piñera também, é amigo do presidente colombiano Alvaro Uribe e próximo do presidente do México, Rafael Calderón. No plano interno, o presidente eleito pode ter problemas com os mineiros da estatal Codelco, a maior produtora do mundo de cobre, já que Piñera planeja privatizar 20% da companhia.