Viajar costuma ser um problema para grande parte das pessoas que têm animais de estimação. A dificuldade em encontrar quem cuide do bichinho e mesmo a consciência pesada em deixá-lo sozinho fazem com que muitos proprietários acabem abrindo mão do prazer de passar alguns dias longe de casa e conhecer novos lugares.
Ciente da situação, a proprietária de uma agência de turismo de Curitiba, Igleide Araújo de Almeida, vem se especializando em organizar excursões rodoviárias voltadas às pessoas acompanhadas de seus cães. ?A procura pelas excursões é imensa?, revela. ?Os empresários de turismo precisam acordar para a necessidade de abertura do mercado para pessoas que querem viajar com seus animais?.
A idéia de criar o chamado Dog Tour surgiu com base em problemas vivenciados pela própria Igleide, que é dona de Flavinha, uma cachorrinha poodle de seis anos de idade. ?Adoro tanto viajar quanto ter um cãozinho de estimação, mas sempre achei difícil conciliar as duas coisas e nunca quis me privar de nada. Uma vez, precisei deixar a Flavinha sozinha alguns dias por motivo de doença na família e ela mesma acabou ficando doente de tristeza, tendo que ser internada em um hospital veterinário. Depois disso, viajar sem ela tornou-se inadmissível?.
Quando chegava a seu destino acompanhada da cadela, Igleide tinha dificuldades para encontrar hotéis que aceitassem a estadia do animal. Muitas vezes, realizava verdadeiros malabarismos para conseguir entrar com o bichinho nos estabelecimentos. ?Uma vez, cheguei a colocar a cachorrinha no colo e escondê-la debaixo de uma manta para conseguir entrar com ela no quarto de um hotel. A situação foi absurda, mas sempre que eu perguntava se podia me hospedar acompanhada de um cão ouvia dos responsáveis pelos hotéis e pousadas que não era permitido. Eles alegavam que o animal poderia incomodar outros hóspedes, o que considero um preconceito?.
Viagens
A primeira excursão organizada por Igleide aconteceu no início do ano, para Florianópolis (SC). Após muitas dificuldades, ela acabou encontrando uma empresa que aceitou locar um ônibus para o transporte de cães e proprietários. Porém, a viagem acabou sendo só de um dia, com saída de manhã e volta à noite, pois não foi possível encontrar um hotel na capital catarinense que aceitasse a pernoite dos cães.
?Ficamos chateados de não encontrar um hotel, mas nos divertimos bastante. A viagem foi extremamente agradável.
Os cachorros se comportaram muito bem e o ônibus voltou intacto?, lembra. ?Uma coisa muito legal é que um restaurante de Florianópolis nos preparou uma recepção especial. O estabelecimento aceitou a presença dos animais e até preparou um espaço especial para eles, permitindo que os donos almoçassem tranqüilos?.
No último mês de junho, aconteceu a segunda excursão, realizada para o Hotel Fazenda Vovó Nana, no município da Lapa. Na ocasião, o estabelecimento foi totalmente destinado ao Dog Tour, com os cães podendo dormir nos apartamentos com seus donos. ?Foi o primeiro hotel que nos aceitou. No local, foram criadas programações especiais para proprietários e animais, como festas e gincanas?.
A próxima viagem deve ocorrer no dia 22, tendo como destino o Hotel Hakuna Matata, em Morretes, no litoral do Estado. A programação inclui festas e ingressos para teatro tanto para pessoas quanto para cães. Mais informações sobre o Dog Tour: (41) 3243-3195.
A cachorrada do Dog Tur fez a festa na Lapa
A gerente-geral do Hotel Fazenda Vovó Nana, na Lapa, Lorena Pereira, afirma não ter se arrependido de ter fechado seu estabelecimento, em junho, para os integrantes do Dog Tour. Os cães tiveram um bom comportamento, o que acabou abrindo precedentes para uma nova hospedagem.
?No total, hospedamos sessenta pessoas e 42 cachorros. Foi uma festa e os animais não causaram nenhum dano ao hotel?, revela. ?Normalmente aceitamos a presença de cães, mas impomos algumas regras relativas à segurança e higiene?.
Lorena acredita que os responsáveis pelo setor hoteleiro ainda não sabem muito bem como lidar com a hospedagem de cães e conta que também chegou a ficar um pouco apreensiva antes de o Dog Tour ser realizado. ?Fiquei um pouco preocupada, mas acho que todo mundo que participou da viagem teve bom senso. Isso foi importante para que tudo corresse bem?.
Donos seguem normas para poder viajar com os animais
Nas excursões organizadas por Igleide, os cães são muito bem-vindos. Porém, para que as viagens não acabem em confusão, os proprietários dos animais devem seguir algumas normas estabelecidas pela promotora da viagem.
No momento de fechar contrato com a agência de turismo, a pessoa assina um documento se responsabilizando por qualquer estrago que seu cão possa vir a fazer no ônibus ou no hotel. ?Em nossas primeiras experiências, nunca tivemos problemas com móveis roídos, lençóis rasgados ou outras coisas do gênero. Porém, é importante que hajam regras?, comenta Igleide.
Os donos também assumem a responsabilidade sobre as fezes de seus animais. Na estrada, o ônibus costuma parar de hora em hora para que os cães façam suas necessidades, sendo que tudo deve ser recolhido. Nos hotéis, os cães geralmente têm livre acesso a quase todos os espaços, mas a sujeira também não deve ser deixada como lembrança. Os proprietários precisam carregar saquinhos plásticos a serem depositados no lixo.
No ônibus, os cães podem tanto viajar no colo de seus donos quanto sozinhos em uma poltrona. Quando a escolha é pela poltrona, o proprietário paga um pouco a mais pela viagem, sendo acrescentado cerca de R$ 25,00 no valor total do serviço. ?Optar pela poltrona é muito bom para quem tem um cão grande ou pretende viajar com mais de um animal?. Na excursão realizada para a Lapa, no último mês de junho, teve pessoas que chegaram a viajar com quatro cães.
Também é de responsabilidade do dono levar a ração do bichinho, fornecendo-a no momento de sua preferência, e uma ?caminha? própria, sendo que costuma ser proibido aos animais dormirem nas camas dos hotéis. Antes do embarque, também é exigido que os proprietários tenham em mãos o GTA (Guia de Trânsito Animal) de seu cão. O documento pode ser fornecido por médico veterinário cadastrado na Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) e atesta que o bichinho está bem de saúde.
Rede hoteleira dificilmente aceita hospedar cães
A maioria das pessoas que já participaram do Dog Tour tiveram dificuldades para viajar com seus cães em excursões convencionais. Na maioria das vezes, os problemas são relativos a não-aceitação dos animais pelas redes de hotéis.
?A grande vantagem do Dog Tour é que você viaja junto com pessoas que, assim como você, amam os animais e os aceitam?, afirma a administradora Paula Gutierrez, que junto com sua cadelinha poodle Pitoca, de três anos de idade, participou da viagem realizada para a Lapa.
O mesmo pensa a esteticista Francisca da Silva Clemente, proprietária de Gui e Pati, respectivamente um shitsu de dois anos e uma lhasa apsu de oito anos e meio. Ela conta que já chegou a viajar sem seus cães, mas que devido à ausência deles não conseguiu aproveitar o passeio como deveria.
?No último feriado de 7 de setembro fui para Treze Tílias (SC) sem meus animais. Como o hotel em que me hospedei não aceitou recebê-los, acabei tendo que deixá-los. Eu fiquei fora cinco dias, mas no segundo já estava querendo voltar para casa. Não conseguia ficar tranqüila sabendo que Pati e Gui poderiam estar sofrendo com a minha ausência?, conta.
Para a advogada Raquel Cortat, dona de uma poodle chamada Babi, de cinco anos, o mercado hoteleiro deve ser mais tolerante quanto à aceitação de animais. ?É claro que devem haver regras, mas a hospedagem de animais – que hoje são vistos como verdadeiros membros da família por muitas pessoas – não deve ser proibida. Os hotéis deveriam aceitar os cães, mas exigir dos donos a carteira de vacinação em dia, o uso de guias e coleiras e o não-acesso a determinadas áreas, como por exemplo de piscina e restaurante?, declara.
