Culpa, revolta, rejeição, medo, impotência e ansiedade são os sentimentos que mais acompanham as pessoas desempregadas. A constatação é de uma pesquisa realizada pela organização não governamental Instituto Amigos do Emprego, que durante seis meses entrevistou cerca de dois mil profissionais que estavam fora do mercado de trabalho.
De acordo com a pesquisa, 76% das pessoas acabam por assumir um sentimento de culpa por terem perdido o emprego, mesmo que a demissão tenha sido resultado de um processo de reestruturação da empresa, no qual diversos profissionais foram demitidos. ?O grande problema é que a culpa é o sentimento que mais afeta o processo de recolocação, pois tem muito a ver com a auto-estima?, afirma Gilberto Guimarães, presidente da ONG.
![]() |
Bundza: ?Pessoas sentem-se discriminadas por não terem emprego?. |
Ainda de acordo com a pesquisa, cerca de 60% dos entrevistados disseram sentir-se rejeitados, principalmente quando não são escolhidos nas entrevistas ou nos processo de seleção. Outro sentimento citado foi a revolta. Em 71% dos casos, os profissionais sentem-se injustiçados, tanto pela empresa que demitiu quanto pelo mercado em geral. O medo de não conseguir uma nova colocação e a ansiedade para que o processo aconteça rapidamente também interferem na recolocação adequada desses profissionais no mercado. Esse conjunto de fatores acaba sendo tão determinante quanto os fatores de ?mercado? no prazo de recolocação.
Segundo Gilberto, isso serve como alerta para as empresas serem mais cuidadosas no modo como conduzem os processos de demissão. ?É preciso que as empresas comecem a perceber o problema do desemprego de uma maneira maismais?, diz Guimarães.
Os resultados da pesquisa, realizada em São Paulo, também puderam ser comprovados entre os desempregados paranaenses. Supervisor da Agência do Trabalhador Central de Curitiba, Bogdano Bundza, conta que muitas das pessoas atendidas na agência sentem-se discriminadas apenas pelo fato de não terem um emprego. Bogdano também destacou um certo desespero por parte dos atendidos, que muitas vezes se sujeitam a qualquer vaga, mesmo que o salário e as qualificações necessárias sejam bem abaixo das características e necessidades do profissional.
A coordenadora de intermediação de mão-de-obra da Secretaria Estadual do Trabalho, Ângela de Fátima Grande Cortens, responsável pelas agências do trabalhador em todo o Estado, comenta que os dias em que as agências têm mais movimento são às segundas-feiras. ?Isso para mim é reflexo da pressão que esses trabalhadores sofrem da família durante o final de semana?, diz.
Desempregado há dois meses, José Silva Pereira de Jesus, que busca uma das vagas da Agência do Trabalhador, conta que a pior sensação é a de impotência. ?Não pude fazer nada para evitar estar nessa situação e, agora, vivo essa incerteza. Não sei o que vem pela frente, quanto tempo vou levar para conseguir uma vaga, onde e como irei trabalhar. Tenho família para sustentar e isso vai me deixando aflito?, confessa.
Esforço pessoal é fundamental para a recolocação
![]() |
José: ?Busco uma vaga na área de produção?. |
Para Gilberto Guimarães, o sucesso de uma rápida recolocação está baseado no esforço pessoal do profissional em elaborar um projeto profissional, escrever suas comunicações (currículo, cartas) e no dinamismo de sua prospecção, procurando ativamente as oportunidades, acionando contatos, buscando informações. Ele destaca o sucesso de programas de recolocação como determinantes para que o trabalhador fique menos tempo na inatividade.
E foi essa recolocação que José Silva Pereira de Jesus foi buscar na Agência do Trabalhador, o único lugar onde teve retorno depois de dias andando pela cidade distribuindo currículos. ?Trabalhei sempre como operador de máquinas, estou buscando uma vaga na área de produção. Não me sinto culpado por estar nessa situação. Estou correndo atrás, tenho coragem e vontade para começar de novo?, comenta. José está fazendo sua parte. Nesses dois meses afastado do mercado não ficou parado, já fez dois novos cursos, enriquecendo seu currículo. ?Tenho fé que a vaga certa vai aparecer?.
Nos últimos três anos, 444 mil profissionais foram colocados no mercado de trabalho através das agências do trabalhador no Paraná. Com palestras sobre empregabilidade e dicas de comportamento, a agência prepara o profissional para o regresso, mas é na intermediação da contratação o grande diferencial do programa. ?Negociamos com a empresa, desde o salário até as qualificações necessárias, encontramos os profissionais cadastrados que tenham perfil para a vaga ofertada, fazemos uma primeira entrevista e o encaminhamos para a empresa. A colaboração dos empresários tem sido fundamental para o sucesso do trabalho?, explica Bogdano Bundza. ?É muito gratificante poder ajudar essas pessoas, cada dia há uma nova história que comove todos. Pessoas desesperadas que vêm a agência com último fio de esperança e encontram conforto e motivação por parte dos agentes para seguir lutando, pessoas que vêm aqui apenas para receber o seguro desemprego e já saem com um novo trabalho?, conta Elaine Ribeiro de Souza Andrade, gerente da agência de Curitiba.
Além das palestras e da intermediação de mão-de-obra, a Agência do Trabalhador também oferece serviços como disque idoso, tele consulta trabalhista, inclusão digital, além de programas específicos para deficientes físicos, pessoas com mais de 40 anos e profissionais autônomos.
Atualização ajuda a retornar ao mercado de trabalho
No Centro Comunitário do Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, dezenas de desempregados tem oportunidade de se atualizar para conseguir voltar ao mercado de trabalho. Desde 1998, o centro oferece o ?Curso de informática para desempregados?, que forma, mensalmente, cerca de 20 novos profissionais.
Coordenador do curso, Antônio Carlos Furtado Dorneles, explica que a idéia é mostrar para o desempregado que há novas oportunidades e que ele ainda tem chance de aprender. ?Muita gente passa 20, 30 anos num emprego e não se atualiza. Daí, quando vai procurar um novo trabalho, percebe que não entende de informática, não sabe navegar na internet e muitas portas se fecham?, diz, ressaltando que ao menos três alunos de cada turma conseguem uma vaga no mercado formal após o curso.
O curso de informática da comunidade do Perpétuo Socorro tem alimentado a esperança de Jorge Nymberg, de 49 anos. ?Toda minha vida trabalhei com projetos elétricos, mas eu era desenhista de prancheta e agora tudo virou computação gráfica. Estou fazendo esse curso para aprender o básico da computação, depois pretendo aprender Autocad, para voltar a trabalhar?, comenta.
Para Telma Silva Honório, 25, o curso deve abrir novas oportunidades. ?Trabalhava no comércio, mais tive que me afastar porque casei e tive filhos. Agora, vou procurar trabalho e fazem uma série de exigências, passei um tempo depressiva, decepcionada com a situação, mas descobri esse curso e estou ansiosa por novas oportunidades.?
?Defina seu projeto, sonhe um pouco, converse com sua família, amigos, colaboradores, pesquise. Com seu projeto bem definido, os próximos passos ocorrerão mais facilmente?, orienta o presidente do Instituto Amigos do Emprego, Gilberto Guimarães.
