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Pequenas doações são trunfo na busca de voto nos EUA

“Envie uma enorme mensagem aos ‘haters’ de Trump levantando US$ 1 milhão nas próximas 24 horas. Contribua agora.” Essa é a mensagem que salta em uma janelinha diante do leitor que abrir o site oficial da campanha à reeleição de Donald Trump. As investigações que atingiram o presidente na última semana são só um fator a mais para estimular as doações.

A meta de US$ 1 milhão em 24 horas foi estabelecida após a divulgação do relatório do procurador Robert Mueller. Na sexta-feira (19), segundo o site, o montantes já havia sido alcançado com doações que começam em US$ 25 dólares e podem ser feitas pela internet. A estratégia para atrair pequenas contribuições online deu resultado em 2016 e, na corrida para 2020, começa a se repetir.

Os primeiros dados da arrecadação dos candidatos à presidência foram divulgados no dia 15 e mostram que mais da metade das doações para os democratas são inferiores a US$ 200. Mas Trump sai na frente em valores absolutos. A campanha do republicano arrecadou US$ 30,3 milhões no primeiro trimestre, segundo declaração feita à Comissão Federal Eleitoral. Somados os valores arrecadados pela campanha de Trump e pelos comitês do Partido Republicano, o total arrecadado é de US$ 39 milhões.

Mais da metade do montante (55%) veio de doações abaixo de US$ 200. O comitê “Make America Great Again”, lema da campanha do presidente, arrecadou US$ 17,4 milhões em doações nesta faixa. A meta é alcançar US$ 1 bilhão para o financiamento da campanha à reeleição. O último presidente a disputar a reeleição, Barack Obama, gastou US$ 720 milhões.

Em 2015, quando decidiu concorrer, Trump anunciou que financiaria sua própria campanha. “Eu não preciso do dinheiro de ninguém. É bom. Estou usando meu próprio dinheiro, não estou usando os lobistas, não estou usando os doadores. Eu não ligo. Eu sou realmente rico”, disse.

No ano seguinte, quase 70% do total de contribuições individuais destinadas à campanha de Trump haviam sido feitas por meio de pequenos doadores. No caso de Hillary Clinton, isso representava 22%. Em 2012, o porcentual de pequenas doações na campanha de Barack Obama foi 28%.

Se a capacidade total de arrecadação é vista como um sinal de força na corrida eleitoral, as pequenas doações são uma demonstração de engajamento do eleitorado. Em um país onde o voto não é obrigatório, mais importante do que conquistar a simpatia de um cidadão é fazê-lo se sentir motivado para sair de casa e votar – e a doação de pequenas quantidades, pela camada média da população, é entendida como um sinal dessa predisposição.

A necessidade de energizar os movimentos de base e o discurso de rejeição à forma tradicional de financiar a política fez os principais candidatos democratas perseguirem os pequenos doadores. Pesquisa do instituto Pew mostrou que a maioria dos americanos é favor de limites às doações e a formas de diminuir o peso do dinheiro nas campanhas. Em reportagem, a Bloomberg avaliou que “a corrida pelo dinheiro nas prévias democratas é muito mais no Walmart do que na Tiffany”.

Até agora, os candidatos democratas arrecadaram juntos mais da metade do valor por meio de pequenas doações, segundo levantamento publicado na sexta-feira pela rede CNN. Mas isso é um resultado de candidatos que puxaram essa arrecadação junto ao eleitorado, como Bernie Sanders, tradicionalmente crítico dos grandes doadores.

Mais da metade dos pré-candidatos do partido não conseguiu obter a maior parte da arrecadação com pequenas contribuições. Até agora, apenas Bernie Sanders, Kamala Harris, Beto O’Rourke e Peter Buttigieg conseguiram mais doações abaixo de US$ 200. Sanders arrecadou US$ 18 milhões, sendo que mais de US$ 15 milhões vieram de doações miúdas. O’Rourke obteve US$ 6 milhões nas primeiras 24 horas após o lançamento de sua candidatura. “Não é só um sinal da força da base, mas também de que é possível quando você atrai confiança do povo”, disse O’Rouke.

Debate democrata

O Comitê Nacional Democrata anunciou que quer fortalecer os movimentos de base e garantiu que as pequenas doações sejam levadas em conta para definir quais candidatos poderão participar dos debates. Publicamente, os democratas criticam o financiamento por meio de comitês de empresas e sindicatos, que arrecadam milhares de dólares em todo o país.

“No passado, nos EUA, se os candidatos tivessem doadores muito ricos, eles falariam abertamente sobre isso. Não estamos mais vendo isso no lado democrata”, afirma Michael Toner, ex-presidente do Comitê Federal Eleitoral americano.

A dispersão de candidatos democratas também dificulta as doações de grandes quantias. Joe Biden, considerado um dos quadros mais competitivos do partido, deve anunciar a candidatura na quarta-feira. Mas para competir com Trump, segundo analistas, as pequenas doação não bastam. “Teremos mais ênfase em doações maiores conforme avançarmos na campanha, porque os candidatos precisarão levantar muito dinheiro para as prévias”, afirma Toner.

O financiamento miúdo está associado à nova política. Uma pesquisa do American for Financial Reform e do Center for Economic Policy Research mostrou que os novos congressistas, eleitos em 2018, usaram mais pequenas doações do que os que foram reeleitos.

No caso dos democratas, os novos deputados levantaram, em média, 17% do dinheiro com pequenos doadores. Já os deputados democratas reeleitos levantaram 9% da arrecadação em quantias baixas. Alexandria Ocasio-Cortez, estrela jovem do partido, financiou 62% de sua campanha com pequenas doações. Segundo Toner, os extremos, de qualquer espectro político, têm traços comuns. “Os extremos são antiestablishment”, diz Toner. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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