Partidos de orientação islâmica capturaram 65% dos votos nas eleições parlamentares que ocorreram em nove das 27 províncias do país no final de novembro, mostrou a contagem oficial dos votos neste domingo, colocando em evidência uma disputa pelo poder entre religiosos muçulmanos, moderados ou não, e partidos e políticos laicos que ajudaram a derrubar o regime de Hosni Mubarak em fevereiro deste ano. A Alta Comissão Eleitoral disse que o Partido da Liberdade e Justiça (PLJ), da Irmandade Muçulmana, agora considerada islamita moderada, capturou 36,6% dos 9,7 milhões de votos. Já o Partido Nour, um grupo islamita linha-dura de doutrina salafista, obteve 24,4% dos votos. O islamita moderado Al-Wasat obteve 4,3% dos votos. O Bloco Egípcio, secular, obteve apenas 13,4% dos votos.
O primeiro turno ocorreu no Cairo, Alexandria e nas províncias do Delta do Nilo. Ainda ocorrerão eleições parlamentares em 18 das 27 províncias do país, em dezembro e nos primeiros dias de janeiro do próximo ano. A população está elegendo 498 parlamentares do futuro Congresso. A junta militar indicará mais 10 parlamentares, chegando a um total de 508.
A Irmandade Muçulmana emergiu como o grupo político mais organizado após a queda de Mubarak. Mas sem um histórico no governo, ainda não está claro como a Irmandade governaria. O PLJ tem se posicionado como moderado, um grupo que deseja implementar leis islâmicas mas sem sacrificar liberdades individuais. O PLJ disse que não fará alianças com o Partido Nour, que é formado pelos muito mais conservadores salafistas.
O vice-chefe do PLJ, Essam el-Erian, disse à Associated Press em entrevista por telefone no sábado que o grupo não está interessado em impor os valores islâmicos no Egito, onde existe uma minoria cristã de oito milhões de habitantes, numa população total de 80 milhões, e muitos muçulmanos seculares são contra se sujeitarem aos duros códigos islâmicos.
“Representamos um partido moderado e justo”, disse el-Erian sobre o seu partido Liberdade e Justiça. “Queremos aplicar o básico da Sharia de uma maneira justa, que respeite os direitos humanos e pessoais”, completou ele, referindo-se à lei islâmica.
Já os ultraconservadores salafistas do Nour deram indicações de que pretendem, se puderem, impedir o consumo de bebidas alcoólicas e criar uma agência policial para punir muçulmanos que não respeitem o jejum durante os dias do Ramadã, mês considerado sagrado no islamismo. Os salafistas defendem a adoção de uma versão ultraconservadora do Islã, próxima à praticada oficialmente na Arábia Saudita, que impõe uma forte segregação de gênero e o uso de véus às mulheres. Os cristãos egípcios temem que sob um possível governo do Nour serão tratados como cidadãos de segunda classe.
As informações são da Associated Press e da Dow Jones.