O Senado do Japão aprovou na manhã deste sábado, com 148 votos a favor e 90 contra, um projeto de lei já aprovado na Câmara que expande o papel das forças armadas do país no exterior. O primeiro-ministro Shinzo Abe queria ver essa lei aprovada em julho ou agosto, mas os debates foram prorrogados depois de a constitucionalidade do projeto ser questionada.
A coalizão liderada por Abe conseguiu levar o projeto a votação apenas dois dias depois de parlamentares governistas agredirem no plenário deputados da oposição que pretendiam bloquear o processo.
Pela primeira vez nos 70 anos depois da Segunda Guerra Mundial, o governo do Japão terá o poder de enviar tropas para conflitos no exterior, mesmo que o país não esteja sob ataque. Abe disse que a aprovação da lei tornará possível uma aliança mais estreita com os EUA em casos como uma guerra na península coreana ou um bloqueio de rotas marítimas que ameace a segurança do Japão.
Funcionários do governo japonês têm tido o cuidado de evitar provocações à China, mas os dois países têm disputas territoriais no Mar do Sul da China – nas quais o Japão tem o apoio dos EUA – e a necessidade de “conter a expansão militar da China” tem sido tema de debates constantes entre os governos do Japão e dos EUA.
Durante os quatro meses em que o projeto foi discutido no Parlamento, a popularidade de Abe despencou, e as manifestações contra a “lei de guerra” diante da sede do Legislativo cresceram a cada semana. Os manifestantes e os principais partidos da oposição argumentam que as atividades permitidas pela nova lei violam a Constituição pacifista adotada pelo país depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Tetsuro Fukuyama, um dos líderes do Partido Democrático do Japão, de oposição, disse que Abe não ofereceu uma explicação convincente sobre a necessidade da lei. “As pessoas estão preocupadas porque o processo democrático está sendo atropelado”, afirmou.
O movimento estudantil assumiu um papel de liderança nos protestos, o que surpreendeu muitos observadores no Japão que haviam se acostumado à apatia política entre os jovens. Os estudantes disseram que vão continuar com seus protestos mesmo depois da aprovação da lei, de olho na eleição para o Senado marcada para meados de 2016.
“Quero que todos os parlamentares que apoiaram esse projeto percam suas cadeiras na eleição para a câmara alta”, disse Nobukazu Honma, um dos fundadores do grupo Ação Emergencial dos Estudantes pela Democracia Liberal. Honma, um estudante de 20 anos da Universidade Tsukuba, afirmou que o movimento mudou a opinião pública. “Acho que neste momento nós estamos conduzindo a política. As pessoas fora do Parlamento estão liderando os parlamentares, e não o contrário. É assim que a democracia deve funcionar”, acrescentou.
Para Aki Okuda, outro líder estudantil, “se os partidos da oposição pudessem trabalhar juntos, isso tornaria nosso trabalho muito mais fácil”. Fonte: Dow Jones Newswires.