O Parlamento recém-eleito da Itália se reúne no dia 23. Depois disso, o presidente Sergio Mattarella consultará líderes partidários, com o objetivo de descobrir qual alternativa de coalizão teria mais chances de sobreviver a um voto de confiança no Legislativo. Caso nenhum grupo surja com potencial nessas conversas, porém, o presidente pode ter de apontar um governo com a tarefa primordial de alterar a complexa lei eleitoral que gerou esse cenário. Nesse caso, o governo deveria renunciar após as alterações legislativas.
Um governo interino, contudo, também teria dificuldades de avançar em reformas, o que poderia significar novas eleições em breve. Um impasse político prolongado seria uma má notícia para a economia italiana, que já cresce menos que o restante da zona do euro e possui um endividamento superior a 130% do Produto Interno Bruto (PIB).
O resultado do domingo foi visto como um revés para as forças pró-União Europeia, já que mais da metade do eleitorado apoiou partidos populistas e céticos em relação à UE, segundo os resultados quase finais. O resultado poderia deixar a Itália com um Parlamento sem maioria clara e as conversas por uma coalizão seriam difíceis.
O Movimento 5 Estrelas, fundado por um comediante há apenas nove anos, foi o vencedor da disputa, com cerca de um terço dos votos. Popular entre eleitores desiludidos, particularmente no Sul mais pobre, ele congrega uma série de visões, mas tem uma pauta favorável ao meio ambiente, contrária aos bancos e cética em relação à UE. O problema para o Movimento 5 Estrelas é sua política de não formar alianças com outras siglas. Ainda assim, o líder Luigi Di Maio, de 31 anos, deseja ser o próximo primeiro-ministro e disse que buscará o apoio de outras forças.
As negociações de uma coalizão podem se arrastar durante semanas ou meses, já que nenhum dos partidos ou alianças deve acabar com maioria no Parlamento. A aliança de centro-direita, que inclui o partido Forza Italia, do ex-premiê Silvio Berlusconi, deve ficar com a maioria das cadeiras no Parlamento, ao conseguir no total 37% dos votos. O bloco governista de centro-esquerda aparecia com 23%.
Analistas previam, antes da disputa, que ela resultasse em uma grande coalizão que reunisse o Partido Democrático, de centro-esquerda, e o Forza Italia. O resultado fraco do Partido Democrático, porém, e o fato de que o partido de Berlusconi foi superado por seus aliados nacionalistas e contrários à imigração, a Liga, complicam o quadro. A Liga passou de apenas 4% na eleição de 2013 para 18% agora.
O pior cenário para a UE seria uma aliança entre o Movimento 5 Estrelas e a Liga, que teriam maioria no Parlamento. Os partidos já defenderam que a Itália abandone o euro, mas o Movimento voltou atrás nessa demanda antes da eleição. A Liga, por sua vez, previu que a moeda única ruirá por conta própria. O candidato a premiê da Liga, Matteo Salvini, afirmou claramente nesta segunda-feira que não pretendia formar “uma aliança estranha”, em uma referência ao Movimento 5 Estrelas. As posições, porém, poderiam ainda mudar, diante das poucas opções para um novo governo.
Entre os grandes derrotados da disputa eleitoral aparecem Berlusconi, que não tem mais o comando da centro-direita, e também a centro-esquerda em geral. “Berlusconi não é mais indispensável”, afirmou Roberto D’Alimonte, professor da Universidade LUISS, em Roma.
Outro grande derrotado é o Partido Democrático e em particular seu secretário-geral, Matteo Renzi. O Partido Democrático não conseguiu nem vencer na Emilia-Romana, uma região que historicamente controlava. Fonte: Associated Press.