Em mais um capítulo de sua busca histórica pela soberania e pelo não-alinhamento às potências internacionais, a França está reorientando sua diplomacia para o Hemisfério Sul. Até aqui concentrada nos parceiros europeus e na relação – muitas vezes turbulenta – com os Estados Unidos, Paris aposta agora em países emergentes e líderes regionais como Índia, Egito e África do Sul para aumentar sua influência geopolítica e beneficiar sua economia. O objetivo é consolidar parcerias sólidas, tendo um modelo em mente: a relação com o Brasil.
A mudança é possível porque as prioridades da política externa foram revistas nos dois primeiros anos do governo de Nicolas Sarkozy. Desde que assumiu, reaproximou-se dos EUA, retornou à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aprofundou a relação com a Alemanha. Agora, o objetivo passa a ser a relação com as novas potências.
A revelação sobre o novo interesse da chancelaria foi feita em uma análise publicada no jornal Le Monde e pode ser confirmada em atos recentes. Nos últimos meses, Sarkozy intensificou a relação com líderes regionais. Em maio, sua delegação visitou os Emirados Árabes Unidos e, em setembro, voltou ao Brasil. Essa parceria diplomática, econômica e militar com o Brasil é o modelo de relação que Paris pretende ter com os emergentes.
“A França está procurando novos parceiros e percebeu que pode estreitar a relação com os emergentes. Tentou com o Brasil e deu certo”, diz Laudemar Aguiar, ministro-conselheiro da embaixada em Paris. “Brasil e França compartilham a mesma análise política e querem trabalhar juntos”, confirma o embaixador da França em Brasília, Antoine de Pouillieute.
A aproximação com o Brasil também é vista por Paris como uma necessidade, já que com gigantes como China e Rússia a relação é tempestuosa. “De um lado, a França tem dificuldades históricas com Rússia, Índia e China. De outro, sabe que o Brasil é o país que funciona melhor entre os emergentes”, disse ao Estado Dominique Moise, cientista político francês, professor da Universidade Harvard.
Para Bertrand Badie, do Instituto de Ciências Políticas de Paris, a reorientação da política externa francesa é fruto da tendência mundial. “A França está seguindo uma lógica internacional. Os países hoje têm um olhar mais agudo em relação aos emergentes.” Segundo ele, a aproximação com o Brasil se deve a vínculos históricos. “Há laços muito mais estreitos com o Brasil do que com a Índia e a África do Sul, por exemplo.”