A queda de dois aviões de caça Rafale M na noite de ontem teria sido causada por um choque durante um voo de exercício realizado no Mar Mediterrâneo. A hipótese é considerada a mais plausível pela Marinha francesa desde que o piloto sobrevivente, Yann Beaufils, informou ter sido atingido na parte de trás de sua aeronave antes de cair. Segundo o Ministério da Defesa, o outro aparelho seguiu voando, até desaparecer dos radares. Seu piloto continua desaparecido.
As informações foram reveladas hoje, em Toulon, no sul da França, pelo ministro da Defesa, Hervé Morin. Em entrevista coletiva, o executivo definiu a perda dos dois aviões e o desaparecimento de um aviador como “um acidente de voo”. “Precisamos investigar a fundo, e toda resposta seria precipitada”, ponderou. “Mas a priori não tem nada a ver com o avião.”
A ressalva faz parte do esforço sutil do governo francês para descartar falhas simultâneas nos dois aviões – cuja compra o Brasil negocia. Conforme as investigações preliminares da Marinha, baseadas em dados do voo e no depoimento de Beaufils, a hipótese mais verossímil é a da colisão.
Segundo a Marinha, o piloto sobrevivente afirmou ter sentido um forte impacto na parte de trás da sua aeronave. No mesmo instante, ele perdeu o controle e a altitude, mergulhando de bico. “Quando ejetou, Beaufils constatou que o avião de seu colega continuava a voar, mas nós perdemos seu sinal de radar alguns minutos mais tarde”, afirmou o porta-voz da Marinha, Bertrand Bonneau. Para ele, o choque é “a hipótese mais provável”.
Buscas
Até esta noite, nenhum traço dos aparelhos havia sido localizado, a despeito dos meios de busca mobilizados pela França e pela Espanha. Além de helicópteros da Marinha, da Defesa Civil e da Polícia, de um navio de apoio equipado com sistemas de localização acústica e de mergulhadores franceses, uma equipe das Forças Armadas espanhola se juntou às buscas, realizadas em uma área de 10 mil quadrados, na qual o Mediterrâneo oscila entre 500 e 600 metros de profundidade.
Apesar do pessimismo dos oficiais, Morin reiterou que todos os esforços serão feitos para localizar o militar desaparecido. François Duflot, 45 anos, piloto do Centro de Testes de Voo (CEV-DGA) das Forças Armadas, tem 5 mil horas de voo. Assim como Beaufils, 40 anos, membro do Centro de Experiências Práticas Aeronavais (Cepa), com 3 mil horas de voo, Duflot é considerado “muito experiente”. Ambos eram pilotos de testes, e não da Marinha, e participavam dos exercícios de “validação de parâmetros de catapultagem para configurações muito pesadas” do Rafale. Esses ensaios fazem parte de uma bateria que visa a preparar a esquadrilha para o uso pleno do porta-aviões Charles-de-Gaulle, previsto para o fim do ano.
Os Rafale M – de “Marine” – acidentados são similares, mas não idênticos, aos modelos que disputam no Brasil a licitação FX-2, ao lado dos F/A-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, e dos Gripen NG, da sueca Saab. De acordo com informações da Dassault, os Rafale M têm 80% da estrutura, 90% do custo e 100% dos equipamentos eletrônicos do modelo almejado pela Força Aérea Brasileira (FAB). Entre as diferenças técnicas estão os trens de pouso, reforçados e adaptados às catapultas, que permitem pousos e decolagens em porta-aviões.
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