O número de usuárias de drogas vem aumento a cada ano. Essa “epidemia” que atinge o Brasil e o mundo foi um dos temas discutidos no Seminário Internacional de Drogas realizado ontem pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba. Uma das conferências que teve destaque foi sobre uma pesquisa inédita realizada pela professora Solange Nappo, do Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas, que relata o envolvimento das mulheres com o crack.

Segundo Solange, a pesquisa teve duração de dois anos. Foram entrevistadas cerca de 80 mulheres dependentes do crack que vivem em São Paulo. “Elas não confiam na sociedade, nem querem ajuda para os seus problemas. Com isso, vivem em um grupo isolado”, afirma Solange. A maioria das mulheres viciadas em crack tem idade inferior a 30 anos. Se prostituem para conseguir a droga ou dinheiro para comprá-la. “Essas mulheres não são prostitutas profissionais, apenas o fazem para sustentar o vício, que chega a ser de 6 a 10 pedras por dia, no valor de R$ 10 cada uma”, acrescenta Solange.

O crack leva dez segundos para fazer efeito no organismo, gerando euforia, excitação, batimentos cardíacos acelerados, seguido de depressão, delírio e fissura por novas doses. As mulheres, quando atingem esse estado, agem diferente do homem que rouba e assalta para conseguir a droga. Elas se prostituem, chegando a fazer até nove programas por dia. “Elas acreditam que a prostituição é menos perigoso do que roubar, mas infelizmente essas mulheres acabam sofrendo violências corporais horríveis. Para aumentar ainda mais a preocupação, quase nunca usam preservativos nas relações. Entre as mulheres entrevistadas na pesquisa, muitas já estavam com o vírus HIV”, diz Solange.

A pesquisa ainda revelou que o destino das mulheres viciadas em crack é a morte, mas não exatamente pela droga e sim pela violência que elas sofrem para conseguí-la. Todo o estudo está sendo encaminhado para a coordenação nacional de doenças sexualmente transmissíveis (DST) do Ministério de Saúde, para que sejam tomadas providências. “É preciso, urgentemente, fazer um trabalho de prevenção nessa parte da sociedade”, conclui Solange.

Crack é mais potente que cocaína

Ana Lúcia Alge

Crack refere-se à forma não salgada da cocaína isolada numa solução de água, depois de um tratamento de sal dissolvido em água com bicarbonato de sódio. Os pedaços grossos secos têm algumas impurezas e também contêm bicarbonato. Os últimos estouram ou racham (crack) como diz o nome.

Cinco a sete vezes mais potente do que a cocaína, o crack é também mais cruel e mortífero. Possui um poder avassalador para desestruturar a personalidade, agindo num prazo muito curto e criando enorme dependência psicológica. Assim como a cocaína, não causa dependência física, o corpo não sinaliza a carência da droga.

As primeiras sensações são de euforia, brilho e bem-estar, descritas como o estalo, um relâmpago, o “tuim” na linguagem dos usuários. Na segunda vez, elas já não aparecem. Logo os neurônios são lesados e o coração entra em descompasso (de 180 a 240 batimentos por minuto). Há risco de hemorragia cerebral, fissura, alucinações, delírios, convulsão, infarto agudo e morte.

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