O Paquistão está em alerta reforçado de segurança hoje, quando ocorre o funeral do governador da província do Punjab, Salmaan Taseer. Trata-se do mais graduado político do país a ser morto em três anos, no crime mais grave envolvendo uma liderança paquistanesa desde o assassinato da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto. Taseer, de 66 anos, era uma das vozes moderadas mais fortes contra o radicalismo islâmico e a crescente ameaça do Taleban e da Al-Qaeda no Paquistão. Ele foi morto a tiros ontem por um de seus guarda-costas, nas proximidades de um café em Islamabad.

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Envolto em um lençol branco, o corpo foi levado à Casa do Governador, em Lahore, capital provincial do Punjab. Familiares e amigos homenagearam o morto, antes do funeral de Estado ordenado pelo primeiro-ministro Yousaf Raza Gilani. Os serviços na cidade estão fechados e as autoridades fizeram um cerco em importantes vias para evitar possíveis distúrbios. Ontem, dezenas de membros do Partido do Povo do Paquistão (PPP) foram às ruas para protestar contra o homicídio. “A segurança está em alerta máximo em Lahore e em todo o Punjab”, disse o comissário de Lahore, Khusro Pervez.

Gilani, que enfrenta uma luta política para se manter no cargo, apelou por calma. O país ainda lembra dos distúrbios generalizados ocorridos após o assassinato da ex-premiê Benazir, em dezembro de 2007. Atualmente, o presidente do Paquistão é Asif Ali Zardari, que era casado com Benazir e também é membro do PPP, como a ex-companheira e Taseer.

As investigações apuram os motivos de o guarda ter matado o governador. O guarda-costas assumiu o crime, dizendo que atacou o patrão por declarações deste contra as leis de blasfêmia no país. Agora, as autoridades investigam se ele agiu sozinho ou era parte de uma conspiração mais ampla.

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Segundo um relatório preliminar da autópsia, o corpo de Taseer tinha 29 perfurações de bala. “Nós investigaremos se foi um ato individual ou se há uma organização por trás disso”, afirmou o ministro do Interior, Rehman Malik. O ministro disse que o responsável pelo crime se chama Malik Mumtaz Hussain Qadri, um quadro treinado pelo governo e que já havia estado protegendo o governador em cinco ou seis ocasiões anteriores. “Nós queremos saber quem colocou seu nome na lista da escala. Nós sabemos que ele visitou o supervisor da polícia para colocar seu nome na lista”, disse o ministro. O supervisor e seu vice estão entre as mais de dez pessoas detidas para interrogatório, segundo funcionários.

Taseer usava mensagens pelo site Twitter e suas aparições públicas para criticar a lei de blasfêmia, dizendo que não a apoiaria apesar da pressão de seu próprio partido, o PPP, e das ameaças de morte feitas por fanáticos. Ele visitou uma cristã mãe de cinco filhos sentenciada à morte por insultar o profeta Maomé, dizendo estar confiante de que ela era inocente. Os Estados Unidos afirmaram que a morte foi uma “grande perda”. Analistas disseram que o crime mostra o como o extremismo religioso penetrou na sociedade paquistanesa.

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Dias antes, comércios foram fechados pelo país para protestar contra o abrandamento da lei de blasfêmia. “O extremismo religioso penetrou tão fundo na sociedade que ele entrou no sistema estatal”, notou o analista político e de segurança Hasan Askari. Há um temor pela segurança do parlamentar do PPP e ex-ministro da Informação Sherry Rehman, que propôs uma lei no Paquistão para abrandar a lei de blasfêmia. Um protesto contra esse possível abrandamento ocorreu em 31 de dezembro, com episódios de violência pelo país.

O governo estará paralisado por três dias em sinal de luto nacional. A administração já enfrenta uma crise, após a saída do Movimento Muttahida Qaumi da coalizão governista. O líder oposicionista Nawaz Sharif deu ao primeiro-ministro 72 horas após o período de luto para concordar com uma série de reformas. Analistas dizem que Gilani pode estar relutante em enfrentar Sharif, temendo que o partido deste, a Liga Muçulmana, possa convocar uma votação de uma moção de censura contra o governo no Paquistão. Caso essa moção seja aprovada, as eleições devem ser antecipadas. As informações são da Dow Jones.