A Suprema Corte de Lahore, no Paquistão, ordenou hoje a libertação do fundador do grupo militante Lashkar-e-Taiba, Hafiz Mohammed Saeed, porque não existiam provas suficientes que o ligassem aos atentados do final do ano passado em Mumbai, na Índia. A decisão foi tomada no momento em que crescem as tensões no noroeste do Paquistão, ao longo da fronteira afegã. Hoje, forças de segurança resgataram dezenas sequestrados e o Exército prosseguiu na luta contra o grupo fundamentalista Taleban no Vale de Swat. O governo indiano condenou imediatamente a decisão.
Saeed estava entre vários suspeitos detidos em dezembro no Paquistão pelos atentados, o que aconteceu após pressão dos Estados Unidos, da Índia e de outros governos para que fossem investigadas as ligações entre o Lashkar-e-Taiba e os ataques em Mumbai. Saeed, um clérigo de 59 anos, criou o Lashkar-e-Taiba no final da década de 1980 para lutar contra o domínio indiano na Caxemira, região disputada entre Índia e Paquistão.
A Caxemira, único Estado da Índia onde a maioria da população é de religião islâmica, é reivindicada por ambos os países. Promotores indianos acusam o Lashkar-e-Taiba de maquinar os ataques a Mumbai. Há suspeitas de que o grupo tenha partidários no serviço secreto paquistanês.
O Lashkar-e-Taiba foi banido pelo governo do Paquistão após os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos EUA. O governo norte-americano colocou o grupo fundamentalista na sua lista de organizações terroristas. Porém, a organização reapareceu com outro nome, Jamat-ud-Dawa, o qual Saeed afirma ser uma organização de caridade sem nenhuma ligação com atos terroristas.
Após os ataques a Mumbai no final do ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) classificou a Jamat-ud-Dawa como uma entidade de fachada para o Lashkar-e-Taiba, o que levou o governo paquistanês a congelar os ativos da entidade e colocar seus líderes em prisão domiciliar.
O governo do Paquistão não anunciou publicamente nenhum indiciamento contra Saeed e não está clara sua suposta participação no planejamento dos ataques em Mumbai. O promotor indiano que investiga o chamado “caso Kassab”, nome do único terrorista sobrevivente dos atentados, pediu à corte paquistanesa que emitisse uma ordem de prisão contra Saeed. O clérigo reagiu contra sua detenção na corte e o advogado A.K. Dogar afirmou que um painel de três juízes decidiu que a detenção foi “contrária à lei e à Constituição do país”.