Ataques

Papa diz que há limites à liberdade de expressão ao falar sobre Charlie Hebdo

O papa Francisco iniciou sua visita ao maior país católico da Ásia nesta quinta-feira e falou sobre os ataques ocorridos em Paris na semana passada. O pontífice declarou que há limites à liberdade de expressão, especialmente quando se insulta ou se ridiculariza a fé de alguém.

Francisco fez as declarações aos repórteres quando estava a caminho das Filipinas, onde centenas de milhares de pessoas se alinharam nas ruas de Manila para recebê-lo. O papa disse que sua visita ao país se concentrará na situação dos pobres, dos explorados e das vítimas da injustiça, temas que certamente ressoam no país onde a pobreza afeta um quarto dos 100 milhões de habitantes.

Antes de pousar, Francisco falou sobre o debate a respeito do massacre dos jornalistas do jornal satírico Charlie Hebdo por extremistas islâmicos e o subsequente ataque a um mercado de comida kosher, que no total deixaram 17 mortos, além dos três homens que realizaram os ataques.

Francisco defendeu a liberdade de expressão como um direito fundamental e até mesmo como um dever pelo bem comum, mas afirmou que há limites, especialmente quando esse direito se confronto com outro, igualmente fundamental: a liberdade de religião.

Como exemplo, ele se referiu a Alberto Gasparri, que organiza as viagens papais e estava ao seu lado no avião. “Se meu amigo doutor Gasparri disser um palavrão a respeito da minha mãe, ele pode esperar um soco”, disse o papa em tom de brincadeira, imitando o gesto de socar Gasparini. “É normal. Você não pode provocar. Não pode insultar a fé dos outros. Não pode fazer brincadeira com a fé alheia.”

Ele não disse de forma alguma que o ataque ao Charlie Hebdo foi justificado. Falou o contrário, ao afirmar que uma violência tão terrível em nome de Deus não pode se justificada e que o ato foi uma “aberração”, mas disse que uma reação, de algum tipo, era esperada.

O pontífice relevou suas prioridades ao chegar às Filipinas, dizendo que “o ponto central da mensagem serão os pobres, os pobres que querem seguir adiante, os pobres que sofreram com o tufão Haiyan e ainda continuam a sofrer as consequências”.

O tufão Haiyan matou mais de 7.300 pessoas e destruiu vilas inteiras na região central das Filipinas em 2013, dentre elas a província de Leyte, que será visitada pelo papa no sábado.

Ele disse também que terá em mente os pobres que “enfrentam tantas injustiças, sociais, espirituais e existenciais”. “Eu penso neles”, afirmou, referindo-se a um almoço recente no Vaticano, do qual participaram trabalhadores filipinos que deixaram suas famílias para trabalhar no exterior.

As Filipinas são um dos maiores exportadores de trabalhadores do mundo. Cerca de um décimo da população deixou o país em busca de trabalho e relatos sobre os abusos e explorações de que são alvo são comuns.

Dentre as pessoas que receberam o papa na pista do aeroporto estavam um menino e uma menina, moradores de um abrigo para crianças de rua, que entregaram flores ao papa. Francisco abraçou e beijou as crianças.

“Eu disse a ele bienvenido (bem-vindo)”, disse Lanie Ortillo, de nove anos, afirmando que o pontífice sorriu e respondeu, “Sim, bienvenido”. Ela afirmou que “enquanto eu abraçava o papa, rezei para que ele pudesse ajudar mais crianças, não apenas nós dois.”

Em seguida, Francisco entrou em seu papamóvel e seus batedores começaram o percurso de 11 quilômetros até a Nunciatura Apostólica em Manila, onde ele ficará hospedado.

Centenas de milhares de pessoas chamaram seu nome e tiraram fotografias detrás das barreiras de concreto colocadas ao longo de todo o trajeto, que foi transmitido ao vivo pela televisão para todo o país. Francisco virava-se constantemente para um lado e para o outro, sorrindo e acenando. Fonte: Associated Press.

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