O papa Francisco encorajou os cidadãos da República Centro Africana a reconhecer a “união na diversidade” e não permitir que diferenças religiosas os dividam. O país vive uma onda de violência entre cristão e muçulmanos após a queda do presidente cristão François Bozizé, em março de 2013.
O papa disse que chega ao país como um “peregrino da paz, um apóstolo da esperança” e encorajou o desarmamento e a reconciliação. Falando pela primeira vez em francês em público, Francisco afirmou que é preciso seguir o caminho da solidariedade para chegar à paz e a saúde, além de um governo saudável em todos os níveis. “Trata-se de viver e construir a partir da maravilhosa diversidade do mundo que nos cerca, evitando a tentação de atemorizar o outro, o desconhecido, aqueles não pertencem ao nosso grupo étnico ou político”.
A presidente interina da República Centro Africana, Catherine Samba-Panza, agradeceu ao papa sua “lição de coragem” por visitar um país assolado pela violência, afirmando que sua presença mostra “a vitória da fé sobre o medo”. Segundo a presidente, todo o país precisa de perdão, começando por ela mesma. “Em nome de toda a classe governante desse país e também em nome de todos os que contribuíram de alguma forma para sua queda ao inferno, eu confesso todo o mal que tem sido feito aqui ao longo da história e peço perdão do fundo do meu coração”, disse.
Ela afirmou esperar que a visita do papa resulte no exorcismo de “todos os demônios de divisão, ódio e autodestruição”, para que o país possa achar o caminho de “uma nova espiritualidade, ancorada na tolerância, amor ao próximo e respeito pela dignidade humana e pela autoridade estabelecida”.
Ainda neste domingo o papa deve visitar um campo de refugiados onde uma comunidade cristã procura se proteger da onda de violência. Na segunda-feira, o pontífice vai a uma mesquita que também se tornou abrigo para muçulmanos que foram expulsos de suas casas.
Havia receios de que o papa pudesse cancelar a visita à República Centro Africana, após os últimos episódios de violência na capital, que já deixaram mais de 100 mortos desde o fim de setembro. Somente cerca de 15 mil muçulmanos continuam morando em Bangui, em meio a ataques que forçaram mais de 100 mil a deixar a cidade. Nos últimos dois anos, o número de refugiados no país chega a quase 1 milhão.
A capital vive há tempos sob um toque de recolher, que começa às 20 horas. No enclave muçulmano na cidade, conhecido como PK5, o arcebispo de Bangui só consegue entrar escoltado por soldados armados da Organização das Nações Unidas (ONU). A entidade procurou convencer o Vaticano de que a situação estava sob controle antes da visita do papa.
O chefe da operação da ONU, Parfait Onanga-Anyanga, disse que os “capacetes azuis”, junto com soldados franceses, vão manter o pontífice seguro. “É óbvio que um sabotador pode tentar quebrar a calmaria, mas estamos prontos para responder da forma mais eficaz possível”, afirmou.
O conflito na República Centro Africana ganhou força no início de 2013, quando uma coalizão de grupos rebeldes muçulmanos do norte do país derrubou o presidente cristão François Bozizé. Com a saída do líder rebelde do poder, no começo do ano passado, uma onda de violência retaliatória liderada pelo grupo cristão Anti-Balaka expulsou a maior parte dos muçulmanos da capital.
O país se preparava para realizar eleições no próximo mês quando a morte de um jovem taxista muçulmano no fim de setembro reacendeu as tensões. Nas últimas semanas a milícia muçulmana Seleka liderou diversos ataques no bairro PK5 e cercanias.
No sábado, o papa esteve em Uganda, onde homenageou um grupo de cristãos, conhecido como os Mártires de Uganda, que foi morto no fim do século XIX, após se recusar a renunciar a sua fé. Ele exaltou os fiéis a seguirem o exemplo dos 45 mártires anglicanos e católicos. Fonte: Associated Press.