É a primeira vez que o organismo internacional dá os nomes dos países onde governos ou grupos armados recrutam crianças e adolescentes para combates militares, disse a representante especial da ONU para crianças em conflitos armados, Olara Otunnu.
A Unicef (agência das Nações Unidas para a infância e adolescência) estima que cerca de 300 mil crianças em todo o mundo foram envolvidas em situações de guerra e porte de armas, a maioria delas na África e no leste da Ásia.
A organização não-governamental Desarme sustenta, no entanto, que o conceito de crianças-soldados deve ser ampliado para o de crianças combatentes, para englobar todos os menores de 18 anos que estiveram envolvidos em guerras mas também em conflitos civis ou outras situações de violência intensa com uso de armas.
O relatório da ONU acusa diretamente os governos da República Democrática do Congo, Burundi e Libéria de recrutar crianças como soldados. Nesses países, disse Otunnu, a mesma prática é realizada por grupos armados não governamentais.
O uso de crianças em guerras e conflitos armados representa uma violação flagrante da Convenção dos Direitos da Criança e de vários outros tratados de direitos humanos.
A ONG Desarme propôs adotar o conceito mais amplo de crianças combatentes para o caso de crianças envolvidas em conflitos de grande violência, como as organizações de narcotraficantes que atuam nas favelas do Rio de Janeiro.
A categoria de crianças-soldados não inclui, na verdade, os milhões de crianças em todo o mundo que são empregadas pelos grupos armados para participar na violência armada e intensa em países que não estão oficialmente em guerra mas têm taxas de homicídio por arma de fogo mais altas que algumas regiões em guerra civil, disse a organização Desarme em sua publicação na Internet.
Crianças são usadas por traficantes nas favelas do Rio de Janeiro
Acrescentou que em áreas como essas a participação de crianças e adolescentes na violência armada em escala parecida ou mais intensa que em algumas áreas consideradas zonas de conflito é considerada como crime ou delinqüência juvenil.
No Rio de Janeiro, os grupos de traficantes estão hierarquicamente estruturados desde os anos 80 e se tornaram uma presença abertamente armada e uma força política nas comunidades faveladas da cidade.
Desarme expressou que os cálculos disponíveis no Brasil informam que cerca de 4 mil crianças estão sendo usadas como combatentes por esses grupos. São crianças que usam armas e participam em intermitentes e intensos conflitos territoriais com outras facções.
Trata-se de grupos que são considerados responsáveis pela maioria das 3 mil mortes por arma de fogo que a cada ano se registram na cidade do Rio de Janeiro.