Delegados de mais de 190 países deram início hoje, em Nagoya, no Japão, a uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) cujo objetivo é assegurar a sobrevivência de várias espécies e ecossistemas ameaçados pela poluição, exploração e invasão de seus hábitats. Mas a maratona de duas semanas de negociações da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU enfrenta algumas das mesmas divergências entre países ricos e pobres a respeito de quais ações devem ser tomadas e que impediram o avanço das negociações climáticas.
“Estamos à beira de um grande aumento do número de extinções”, disse Russ Mittermeier, presidente da Conservação Internacional e biólogo de campo que há décadas estuda os primatas. “Ecossistemas saudáveis são a base para o desenvolvimento humano”.
Se uma parte da complexa rede de organismos vivos desaparecer – como as abelhas, que tem um importante papel na polinização e cujos números estão diminuindo – todo o sistema pode entrar em colapso, afirmam os cientistas. Os delegados reunidos em Nagoya, a 270 quilômetros a oeste de Tóquio, para a 10ª reunião da convenção desde que ela surgiu durante a Cúpula da Terra em 1992, deverão estabelecer 20 medidas mensuráveis para a próxima década e tentar diminuir ou interromper as atuais tendências.
“Nós estamos perto de chegar a um ponto sem volta, estamos perto de atingir um limiar além do qual a perda de biodiversidade será irreversível e podemos cruzar esse limiar nos próximos dez anos se não tomarmos medidas proativas”, afirmou Ryu Matsumoto, ministro do Meio Ambiente do Japão, em discurso durante a abertura da reunião. Uma das questões que atraem mais atenção é propostas para estabelecer grandes áreas de preservação em terra e no oceano, embora os países em desenvolvimento se recusem a interromperem suas perspectivas de desenvolvimento econômico.
Outro ponto de disputa será a tentativa de criar uma estrutura legal para dividir, de forma equitativa, o acesso e benefícios de fontes genéticas, como plantas que têm valor medicinal. A convenção de biodiversidade não tem um histórico particularmente bom. Não conseguiu atingir os objetivos globais estabelecidos em 2002 para melhorar a proteção da biodiversidade. Cientistas estimam que a Terra perca espécies num ritmo entre 100 e 1 mil vezes maior do que a média histórica. Dentre os 20 objetivos para 2020, está um acordo sobre a porcentagem de terra e mar que será designado como área protegidas.
Esboço
O esboço do acordo sugere que o porcentual de terra seja elevado dos atuais 13% para algo entre 15% para 20%. Mas nenhum objetivo foi determinado para os oceanos, dos quais menos de 1% são atualmente protegidos. Centro e noventa e três países fazem parte da convenção da biodiversidade. Apenas três não o ratificaram: Estados Unidos, Andorra e a Santa Sé.
Já o Japão, o anfitrião da reunião, enxerga na conferência uma chance para se mostrar como protetor da biodiversidade após ter ajudado a prejudicar a maior parte das medidas durante a Convenção sobre o Comercio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES, pela sigla em inglês) ocorrida no ano passado e que teria limitado o comércio de atum, tubarão e outras espécies marinhas. Tóquio também é alvo de fortes críticas de grupos ambientalistas por causa de seu programa de caça às baleias. “É uma chance para o governo japonês mostrar que o Japão pode ter um papel de liderança nas questões de biodiversidade marinha”, disse Wakao Hanaoka, que faz campanha para o Greenpeace.