Pais negligentes, filhos estressados

O estresse não atinge apenas os adultos, as crianças também sofrem com este mal do mundo contemporâneo. Uma pesquisa feita pela professora e doutora Lídia Weber, do Núcleo de Análise de Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com 500 crianças e adolescentes, constatou que 15% deles apresentavam os sintomas da doença. O que preocupa é que na maioria dos casos a principal causa do problema é a negligência dos pais.

Segundo a professora, até pouco tempo pensava-se que o estresse era coisa apenas de gente adulta. No entanto, hoje tem-se observado que as crianças também apresentam o comportamento. "Na verdade o estresse sempre existiu, mas agora as pessoas começaram a prestar mais atenção no problema", explica.

São várias as causas de estresse infantil. As mais comuns são a separação ou abandono dos pais, mudanças repentinas de casa ou escola, a chegada de um novo irmão, a morte de amigos ou parentes, exigência demais na escola ou na família. No entanto, o relacionamento dos pais com os filhos também pode desencadear o problema.

A pesquisa feita pela professora e alunos da UFPR focou as relações parentais e descobriu que 56% das crianças estressadas tinham pais com o estilo negligente. São aqueles que não demostram afeto e não possuem nenhum envolvimento com a criança, não participam de nenhuma atividade do seu dia-a-dia. Estes pais também caracterizam-se por serem permissivos, apresentando poucas regras e limites, ou quando apresentam são inconstantes. "Um dia brigam porque o filho fez alguma coisa e no outro não", explica Lídia.

O autoritarismo dos pais também contribui para o surgimento da doença. Ele ficou em segundo lugar, aparecendo em 26,3% dos casos analisados. Geralmente estes pais são super exigentes, apresentam muitas regras e limites. No entanto, se envolvem pouco com os filhos e quase não dão nenhum apoio emocional.

As duas situações podem ser observadas pelas respostas dadas pelas crianças e adolescentes na pergunta aberta que constava na pesquisa: O que me deixa triste é… "Quando tiro nota alta ele nem liga", ou "Que ele (pai) faz tudo sozinho e não pergunta a minha opinião ou de meus irmãos, ou de minha mãe também. Minha mãe tenta ajudar o meu pai e ele quer fazer tudo sozinho". Segundo a professora, as respostas evidenciam a falta de responsividade dos pais (falta de envolvimento e de afeto) e o autoritarismo.

A pesquisa revelou ainda outros aspectos. Em 76,5% dos casos foi constatado que as crianças recebem poucos elogios, são alvo de palavras duras, depreciativas. O clima conjugal também é outro fator que ajuda a desencadear o estresse – 61,1% das famílias de crianças com a doença apresentavam o problema.

Sinais

As crianças depressivas dão sinais claros de que algo não vai bem e que estão precisando de ajuda. Elas apresentam falta ou excesso de apetite, mau humor, choram constantemente ou sem motivo, brigam com freqüência na escola, não têm sono e apresentam rebaixamento de desempenho acadêmico.

A psicóloga Simone Bonacardi diz que pelo menos 30% de seus pacientes apresentam estresse. No entanto, são encaminhados ao consultório por outros motivos, o principal deles é a dificuldade de aprendizagem. "Em muitos casos não há qualidade na relação entre pais e filhos", fala. Se o estresse não for tratado, o quadro pode evoluir para depressão e gerar ainda outros patologias como gastrite, dores de cabeça, entre outros. "As crianças precisam de limites. Regras claras, e, ao mesmo tempo, afeto", ensina Lídia.

Excesso de atividades atrapalha

Não é só a falta de um bom relacionamento com os pais que pode causar estresse, as inúmeras atividades que as crianças têm que cumprir durante o dia também causam o problema. "Criança também tem que ter tempo ser criança", fala a psicóloga Simone Bonacardi.

Muitos pais passam o dia todo fora e não têm tempo para se dedicar aos filhos. A saída para muitos é preencher o nodia das crianças com inúmeras atividades, além da escola. São aulas de ballet, natação, inglês, música, entre outras. No entanto, a rotina acaba se tornando estafante, abrindo porta para o estresse.

A psicóloga explica que as atividades complementares são importantes para o desenvolvimento infantil. Ma, a criança também precisa de um tempo para ser criança.

O professor e pesquisador Áderson Costa, do Laboratório de Saúde e Desenvolvimento Humano da Universidade de Brasília (UnB), concorda. "É preciso deixar a garotada pelo menos um período do dia livre. Nada de excessos de atividades extraclasse. Algumas horas sem cobrança, nem exigências também são necessárias para o desenvolvimento da garotada", diz. (EW)

Auto-estima no bom relacionamento

Além do estresse, a auto-estima também está relacionada ao tipo de atenção que os filhos recebem dos pais. Quando crianças e adolescentes têm pais participativos o grau de auto-estima é elevado. Já os que têm pais com estilo negligente apresentam o comportamento inverso.

A pesquisa feita pela professora e doutora Lídia Weber, do Núcleo de Análise de Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), constatou que a auto-estima dos pesquisados não tinha relação com a idade ou sexo. Já as relações parentais mostraram-se fatores determinantes para desencadear o problema.

Pelo estudo, os adolescentes com bom relacionamento familiar apresentaram um grau elevado de auto-estima. São filhos de pais que costumam mostrar seus sentimentos através de beijos e abraços, demonstram orgulho e valorização dos filhos. Segundo Lídia, este comportamento é essencial para a construção da auto-estima dos jovens.

O grupo que apresentou auto-estima elevada também tinha pais que costumam se envolver em suas atividades. A afirmação pode ser observada no depoimento de um jovem de 13 anos: "Os meus pais são os melhores pais do universo para mim, pois me ajudam sempre nos momentos difíceis de minha vida e sempre me aconselham a fazer a coisa certa. É por isso que eu amo minha mãe e meu pai".

Outro aspecto importante é a imposição de limites. Os adolescentes com alto grau de auto-estima afirmaram que os pais monitoram com freqüência o seu comportamento. Estes pais caracterizam-se por acompanhar todos os acontecimentos na vida dos filhos e também dão conselhos. (EW)

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