Usuário de maconha abandona |
Rio – ?Foram 12 anos de luta para tirar minha filha das mãos dos traficantes?, desabafa Angela Soares, de 54 anos. Ela subiu o morro, enfrentou bandidos e pôs em risco sua própria vida para salvar a da filha adolescente. A menina tinha abandonado a família, de classe média alta, em Juiz de Fora (MG), para morar numa favela no Rio. A mãe investigou, descobriu o paradeiro da filha e foi atrás dela. ?Foi o momento mais barra pesada. Ela transportava a droga de um morro para o outro e andava armada. Uma vez, levou uma surra da polícia e quase se afogou no mar?, conta. Mãe de outros dois filhos, Angela diz ter agora a sensação do dever cumprido, mas reconhece: ?Chega a um ponto que a gente fica tão exausta que pede até para o filho morrer. Mas eu não desisti e hoje ela está recuperada?.
O medo do envolvimento dos filhos com as drogas e a criminalidade está levando pais e mães, em muitos casos, a recorrer à espionagem. Uns investigam por conta própria, como fez Angela. Outros contratam detetives profissionais. No início de maio, saiu nos jornais a história dramática de uma mãe que rastreou e-mails da filha de 17 anos e instalou aparelhos identificadores de chamadas telefônicas e gravadores em vários cômodos da casa. A adolescente, que consumia ecstasy, tinha fugido de casa, num condomínio de classe média na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, e foi encontrada, com ajuda da polícia, numa festa rave no Cais do Porto. ?Estamos sobrecarregados. Acredito que os últimos episódios alertaram os pais e os encorajaram?, conta o detetive particular Gomes, que tem escritório no centro do Rio e diz estar trabalhando bem mais depois da repercussão do caso do Cais do Porto e de outra jovem de Ipanema que abandonou a família para viver com traficantes no Morro do Turano, na zona norte da cidade. Segundo o detetive, a procura em seu escritório está dez vezes maior. Recebem a garantia de um trabalho detalhado, com equipamentos de última geração – como microcâmeras, gravadores e rastreadores de chamadas – aliados a profissionais especializados. Os pais que se utilizam desse expediente não costumam falar sobre isso, por motivos óbvios. Sem citar nomes de clientes, o detetive Gomes conta um pouco de sua experiência. ?A primeira reação (dos pais) é o choque. Aí eles se culpam e se perguntam ?onde foi que eu errei??. ?Na maioria dos casos, o erro está na ausência, na falta de amizade, de carinho?, analisa.
Relação deve se basear na confiança
Rio – A diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), Maria Tereza Aquino, lembra o caso de um pai que a procurou desconfiado de que o filho, de 17 anos, estava fumando maconha. Após uma semana de atenta busca pelos sintomas -olhos vermelhos, boca seca -veio a revelação: ?Descobri que meu filho tem olhos verdes, doutora?. Ela diz: ?Tem que saber ouvir. Na maioria dos casos, os pais falam, falam, mas não escutam, seja por falta de tempo ou paciência?, afirma Maria Tereza.
Para a diretora do Nepad, investigação profissional pode piorar as coisas: ?Colocar um detetive ou a polícia na história só vai aumentar ainda mais a distância?. A médica Stella Taquette, coordenadora do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente, concorda. ?Não pode deixar chegar a esse ponto. Esse é um controle desleal. Relação de pai e filho tem que ser baseada em confiança. Como ele vai lhe contar alguma coisa se você vasculha a intimidade dele sem ele saber? O ideal é buscar essas informações da boca do próprio filho?, recomenda. Mas e se já for tarde demais para o bate-papo? Nesse caso, aconselha o terapeuta familiar Moisés Groissman, os pais devem investigar a fundo. ?Deve-se pecar pelo excesso e não pela omissão. Se o pai estiver desconfiado, deve usar dos meios que tiver, desde que não sejam violentos, para confirmar. É melhor do que ficar na dúvida, não investigar e lá na frente descobrir. Aí pode ser tarde demais?, diz. Para descobrir a tempo o que tivesse que descobrir, a brasileira Mariane Rios, 48 anos, arregaçou as mangas e se tornou ela mesma um detetive. Hoje residente no estado americano da Flórida, Mariane se orgulha de ter impedido que uma das filhas se tornasse dependente química. ?Um dia, com a ajuda de uma amiga, fui atrás dela. Eu a encontrei dentro de um trailer, jogando cartas, bebendo e fumando maconha com os amigos. Tirei-a de lá. Mesmo com ela gritando, peguei pelo braço, coloquei dentro do carro e levei para casa?, conta.