O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer concedeu uma entrevista após receber o prêmio Imperial, entregue anualmente pela Japan Art Association, destacando que essa homenagem não foi feita “apenas ao artista”, mas ao “homem que trabalhou intensamente”. “Quero ressaltar que, com o Imperial 2004, não se premia apenas o arquiteto, mas também, e em primeiro lugar, o homem que viveu e trabalhou intensamente”, declarou o quase centenário arquiteto.
Ao avaliar sua obra, Niemeyer afirmou: “Acredito que a arquitetura muda de acordo com as pessoas que a fazem ou a contemplam. Eu sempre fui muito diferente de meus colegas, sobretudo porque durante toda a minha vida persegui o que eu gosto e lutei duramente para desfrutar da liberdade de pensar somente nas coisas que para mim são significativas”.
Nesse sentido, referiu-se ao seu trabalho com Le Corbusier (1887-1965), de quem foi discípulo. “Apesar de haver trabalhado com Le Corbusier e ser considerado um de seus discípulos, não tenho muito a ver com seu estilo, que é muito mais pesado que o meu. Toda a minha obra está baseada na curva, que sempre me fascinou”, observou.
Mas a arquitetura não foi tão importante, revelou. “Na minha vida, o que contou principalmente foi a amizade, mais que a arquitetura, que não é algo tão importante. Acredito na solidariedade sem competição. Nunca se deve esquecer que tudo passa e decai com o tempo”, declarou.
Comunista declarado, Niemeyer sofreu o exílio por suas idéias políticas, mas adquiriu uma reputação internacional que lhe permitiu trabalhar em todas as latitudes e sob todos os regimes políticos possíveis.
Em relação a sua obra mais famosa, a criação, a partir do nada, da cidade de Brasília, Niemeyer garantiu que foi “uma aventura, um sonho”. “Criar uma cidade incomparável, num local onde não havia nada, nem infra-estrutura, nem telefone, nem eletricidade (…) foi um desafio que encheu de orgulho ao meu povo e confirmou minha idéia de que a arquitetura deve acima de tudo causar surpresa”, comentou o arquiteto.
