Tratamos no último encontro de algumas reflexões a respeito das possíveis causas morais e/ou espirituais das catástrofes naturais como o maremoto na Ásia, cujo número de vítimas parece não parar de aumentar e já ultrapassou 226 mil mortes, além dos feridos e cinco milhões de desabrigados.
Vimos na ocasião que, segundo a doutrina espírita, da mesma forma que a chamada lei de causa e efeito determina as diretrizes básicas da vida física do indivíduo, tal também ocorre em relação às coletividades, uma vez que nossas ações não são isoladas e não dizem respeito somente ao próprio ser. Em alguns aspectos nossas deliberações provocam conseqüências que, ao menos aparentemente, esgotam-se em seu próprio agente como os cuidados ou a falta deles em relação à saúde do corpo carnal. Na íntegra, isto jamais acontece. Afirmam os orientadores espirituais que nenhum pensamento deixa de repercutir e alterar, ainda que infimamente, o universo.
Mas as ações mais significativas e intensas afetam os grupos sociais a que pertencemos. Interagimos com o ambiente e com as demais pessoas, especialmente num mundo globalizado e de comunicações instantâneas. Ações que atingem as coletividades provocam efeitos que retornam a cada um dos indivíduos que participou, com sua parcela de responsabilidade, na geração dos efeitos desencadeados.
Ponderamos que desastres originados nas forças da natureza não são propriamente castigos e que, dentre o número total de vítimas, provavelmente certo percentual não estava em processo de expiação, mas de provações, talvez arbitradas previamente por iniciativa própria para acelerar o seu progresso espiritual. Uma coisa é fato: nada ocorre por acaso, com lances de sorte ou azar, e nenhum sofrimento é gratuito ou inútil. Se não era um débito a ser resgatado, tornou-se um crédito antecipado para a vida pós-terrena e futuras reencarnações.
Desejamos hoje destacar alguns fatos e lições que ficam de episódios tão marcantes como o ora analisado. Por exemplo, as palavras da mãe da diplomata brasileira que pereceu na Tailândia. Embora tomada pela dor da perda da filha e do neto, em vez de praguejar, ela simplesmente agradeceu a Deus por ter poupado a vida da neta que, por uma daquelas "coincidências", sentindo-se indisposta, decidiu não acompanhar a mãe e o irmão, permanecendo no hotel. Bela demonstração de resignação e fé desta senhora!
As várias sobrevivências ditas "miraculosas" merecem uma nota. Bebê flutuando sobre um colchão; mulher que depois se soube grávida, resgatada após vários dias nos quais se manteve viva agarrada a uma palmeira; homem em alto-mar também agarrado a destroços de uma embarcação e alimentando-se de cocos; o casal de brasileiros que escapou porque na hora da passagem das ondas gigantes estava mergulhando, decisão tomada em oposição ao restante do grupo que optou pela excursão a um outro local e foi todo dizimado; o grupo que procurou lugares mais elevados alertado pelo instinto dos elefantes que perceberam a iminência da tragédia.
Dir-se-ia que foi a mão de Deus que os salvou ou seus espíritos protetores. De fato, um incômodo providencial para a neta da brasileira e uma inspiração para o casal de mergulhadores. Para os outros algo de intervenção transcendental, mas também muito de coragem, fé e força de vontade.
Mas e quanto às demais centenas de milhares? Eram pessoas sem fé? Costuma-se dizer nestas ocasiões que foi "graças a Deus". Então todos estes foram deserdados de sua misericórdia? Deus, apesar de sua onipotência e infinito amor, estabelece leis naturais que regem o universo e dispensam intervenção direta em cada caso particular. Permite que muitas coisas ocorram, apesar de nem sempre concordar com elas, ou seja, não são de sua vontade. O livre-arbítrio humano é respeitado, mesmo no erro, e cada um recebe "segundo suas obras", conforme as palavras do Cristo. A dificuldade de compreensão está na curta visão da vida por desconsiderarmos as múltiplas experiências carnais a que estão submetidas as criaturas. Feridos, desabrigados, sobreviventes excepcionais foram provados ou expiaram, mas sem a necessidade de passar pela desencarnação naquele momento. Deus não comete injustiças nem erros.
Finalmente, elogios à mobilização de solidariedade de governos, organismos e particulares. Só Michael Shumacker, campeoníssimo da Fórmula 1, doou dez milhões de dólares. Anônimos deram pouco ou bastante, mas todos sensibilizados pela dor cruciante que atingiu tantos irmãos nossos. A Terra, literalmente, nunca mais será a mesma após os tsunamis.
Coluna de responsabilidade da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná – ADE-PR. E-mail: adepr@adepr.com.br