As atrocidades perpetradas contra as mulheres da província congolesa de Kivu do Sul vão "muito além do estupro" e incluem crimes como escravidão sexual, incesto forçado e canibalismo, denunciou Yakin Erturk, uma especialista em direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Erturk, que na semana passada concluiu uma visita de 11 dias à República Democrática do Congo, qualificou a situação em Kivu do Sul como a pior presenciada por ela em quatro anos de trabalho como investigadora especial da ONU para atos de violência contra a mulher.
Segundo ela, os piores abusos foram perpetrados por grupos rebeldes, muitos dos quais refugiaram-se na região depois de participarem do genocídio em Ruanda no início da década passada. "As atrocidades perpetradas por esses grupos armados são de uma brutalidade inimaginável e vão muito além do estupro", disse Erturk em Genebra. "As mulheres são vítimas de estupro em grupo, em alguns casos diante de familiares e de integrantes de suas comunidades. Em casos numerosos, homens ficaram sob a mira de revólveres e foram obrigados a violentar filhas, mãe e irmãs" denunciou.
E prosseguiu: "Freqüentemente as mulheres são baleadas ou esfaqueadas em seus órgãos genitais depois de serem estupradas. Mulheres que sobreviveram a meses de escravidão me contaram que seus agressores as obrigaram a comer excrementos e até mesmo a carne de familiares mortos". Erturk observou que a situação é "alarmante e requer atenção imediata". Somente este ano, afirmou ela, houve 4.500 casos denunciados de violência sexual, mas acredita-se que o número real seja bem maior porque muitas vítimas mantêm-se em silêncio.