O representante especial das Nações Unidas no Afeganistão, o norueguês Kai Eide, admitiu ontem que haverá irregularidades nas eleições de amanhã no país para presidente e para conselhos provinciais. No entanto, ele disse que elas não vão afetar a credibilidade da votação. Muitos afegãos nas ruas de Cabul dizem temer o favorecimento do presidente Hamid Karzai. Há relatos de homens recebendo vários títulos de eleitor supostamente para suas mulheres, pessoas vendendo títulos e comprando votos. “Não tenho ilusões de que não haverá irregularidades nessa eleição, mas tenho certeza de que elas não colocarão em jogo sua credibilidade”, disse Eide em entrevista coletiva, respondendo a uma pergunta do jornal O Estado de S. Paulo sobre as suspeitas de muitos eleitores de que a eleição será fraudada..

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“Aprendemos muito da eleição de 2004. O sistema de contagem de votos é completamente diferente e a qualidade do material eleitoral é melhor, com mecanismos para detectar fraudes.” Eide comemorou o fato inédito de os próprios afegãos organizarem as eleições, por meio da Comissão Eleitoral Independente, em vez de as agências internacionais, como ocorreu na eleição de 2004 para presidente e de 2005 para o Parlamento.

Uma equipe da BBC no Afeganistão, atuando sob disfarce, encontrou pessoas vendendo títulos eleitorais por US$ 10 cada. De imediato havia disponíveis mil títulos para venda, com toda a aparência de autenticidade, com fotos, nomes e endereços. Um líder tribal na Província de Baghlan, no norte do país, que tem autoridade para determinar o voto de muitos eleitores locais, disse à BBC que representantes dos dois principais candidatos – o presidente Karzai e o ex-chanceler Abdullah Abdullah – disputam os votos numa espécie de leilão, com lances de US$ 10 mil cobertos por US$ 20 mil.

‘Consenso nacional’

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O representante da ONU fez um apelo para que os afegãos alcancem um “consenso nacional” depois das eleições. “Um processo de paz não pode ocorrer se não houver um consenso amplo na sociedade afegã”, argumentou Eide. “Haverá ganhadores e perdedores, mas estou preocupado com uma situação em que o vencedor leve tudo.” O apelo do diplomata reflete a preocupação com possíveis confrontos depois da eleição. Eles poderiam ser provocados tanto pela insatisfação dos partidários de Abdullah com o anúncio de sua derrota quanto pela disputa por espaço no governo depois da eleição entre os chefes de milícias.