Ongs lutam pela preservação

O Brasil tem 282 espécies de animais que correm risco de serem extintas. Perdendo apenas para os Estados Unidos (859 espécies), Austrália (527) e Indonésia (411), é o quarto país do mundo no ranking de animais em perigo de extinção. Os dados são da União Internacional para a Conservação da Natureza (cuja sigla em inglês é IUCN) e foram divulgados no site da Associação de Defesa do Meio Ambiente Vale Verde, que tem sede em São Paulo.  

A situação é considerada preocupante e precisa ser revertida. Diante do problema, algumas organizações não governamentais (ongs) têm se mobilizado e realizado trabalhos voltados à preservação. Graças aos esforços delas e de seus voluntários, muitas espécies estão sendo salvas e conseguindo sobreviver às ameaças e adversidades.

No Paraná, são diversas as ongs que realizam ações voltadas à conservação do meio ambiente. Porém, o trabalho de duas delas na preservação de espécies animais se destaca. A primeira é o Instituto Ecoplan, que vem contribuindo com a manutenção do peixe mero (Epinephelus itajara). A segunda é a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), que vem salvando da morte os papagaios-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis).

Peixe mero

O mero é considerado uma das maiores espécies de peixe do mundo, podendo alcançar até 2,7 metros de comprimento e pesar mais de quatrocentos quilos. Devido ao tamanho, sempre foi muito visado pelos praticantes da pesca esportiva, que disputavam entre si para ver quem capturava o maior animal. Desde 2002, a espécie é protegida por uma portaria do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), que proíbe sua pesca, captura, transporte, comercialização, beneficiamento e industrialização até o próximo mês de setembro.

Os irmãos Pedro e Raquel Pizzato participam do Instituto Ecoplan, que ajuda a preservar o peixe mero.

A contribuição do Ecoplan na preservação do mero se dá através da realização de um projeto de implantação de recifes artificiais no litoral paranaense, no Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Os trabalhos tiveram início em 1996, com o objetivo de conservar a vida marinha e aumentar a biomassa pesqueira, ajudando comunidades litorâneas. ?Até agora, já foram afundadas no litoral brasileiro 4 mil estruturas de concreto que servem como recifes artificiais. Destas, quase metade foram instaladas no litoral paranaense, entre as ilhas de Itacolomi e Currais?, dizem os integrantes do instituto, os irmãos Pedro e Raquel Pizzato.

Após afundadas, as estruturas passam a servir de habitat a espécies marinhas. Nos locais, vão sendo criados ecossistemas próprios, onde flora e fauna passam a se reproduzir. Especificamente em relação aos peixes meros, os recifes artificiais são utilizados como esconderijo, evitando que eles sejam capturados pela pesca de arrasto (onde redes fixadas em embarcações promovem verdadeiras varreduras no fundo do mar).

?A pesca de arrasto mata principalmente os peixes mais jovens, que costumam ficar mais perto da costa. Como o mero é grande, estando praticamente no topo da cadeia alimentar, ele não se preocupa em fugir de possíveis predadores. Tem comportamento dócil e por isso é facilmente capturado. Os recifes artificiais funcionam como proteção?, explica Pedro, que é biólogo. ?A espécie também é suscetível à extinção em função da lenta reprodução. Os indivíduos só atingem a maturidade sexual após os doze anos de idade.?

O trabalho desenvolvido pelo Ecoplan é realizado graças a parcerias com instituições governamentais e empresas. Os recifes artificiais também servem de proteção a outras espécies, como por exemplo representantes da família serranídea, na qual estão incluídos peixes badejos e garoupas.

Papagaio

Os papagaios-de-cara-roxa habitam os remanescentes de Mata Atlântica, sendo encontrados do litoral sul de São Paulo ao norte de Santa Catarina. Segundo estimativa da SPVS, nestes locais existem cerca de 5 mil representantes da espécie, sendo que 70% vivem no Paraná. ?O papagaio-de-cara-roxa está em extinção devido à degradação de seu habitat natural e à captura ilegal promovida por pessoas que tentam comercializar o animal. Ele se reproduz entre os meses de outubro e abril, quando intensificamos nossos trabalhos para que os filhotes consigam sobreviver e possam deixar os ninhos?, comenta a coordenadora do projeto de conservação do papagaio na SPVS, Elenise Sipinski.

O trabalho da organização consiste na instalação de ninhos artificiais (feitos de madeira e tubos de PVC) para que as aves possam botar seus ovos, monitoramento dos ninhos, monitoramento de alguns indivíduos através da utilização de radio-colares e conscientização da população. ?Através de nossas ações, auxiliamos na reprodução dos papagaios, fazendo com que haja um incremento da população dos mesmos na natureza. Monitoramos principalmente as ilhas do litoral do Paraná, contando com o trabalho de voluntários. Entre eles estão estudantes, biólogos, veterinários e zootecnistas.?

Assim como as atividades do Ecoplan, as da SPVS contam com o apoio financeiro de órgãos públicos (como o Fundo Nacional do Meio Ambiente) e empresas. No período reprodutivo 2005/2006 do papagaio-de-cara-roxa, nasceram e sobreviveram no Paraná 49 novas aves.

Projeto defende tartatugas marinhas

 

De alcance nacional, tem destaque o Projeto Tamar (Programa Brasileiro de Conservação de Tartarugas Marinhas), que realiza trabalhos em grande parte da costa brasileira. A iniciativa acontece graças ao Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisa de Tartarugas Marinhas, que é um órgão governamental, e à Fundação Centro Brasileiro de Proteção e Pesquisas das Tartarugas Marinhas (Fundação Pró-Tamar), que se caracteriza como ong.

Até meados da década de setenta, não existia no Brasil nenhum trabalho voltado à preservação marinha. Então, em 1979, o governo criou o Programa Nacional de Conservação Marinha, do qual resultou o Tamar. Com o projeto constituído, foi criada a Fundação Pró-Tamar, que junto com o centro garante a conservação de cinco espécies de tartarugas no Brasil: cabeçuda (Caretta caretta), de pente (Eretmochelys imbricata), verde (Chelonia Mydas), oliva (Lepidochelys olivacea) e de couro ou gigante (Dermochelys coriacea).

?Em 1982, fizemos um levantamento para detectar as principais ameaças às tartarugas marinhas. Percebemos que elas chegavam ao Brasil para desovar e tinham seus ovos colhidos por comunidades litorâneas ou capturados por pescadores. Então, chegamos à conclusão que teríamos que restabelecer o ciclo reprodutivo dos animais através da inclusão social e da geração de renda?, conta o coordenador nacional do Tamar, Guy Marcovaldi.

Identificados os problemas, os integrantes do projeto passaram a empregar as pessoas que coletavam os ovos das tartarugas, fazendo com que elas abandonassem a atividade, recebessem noções de preservação e se tornassem multiplicadoras de informações. Além disso, foram criados oito centros de visitantes (cujo mais conhecido é o da Praia do Forte, na Bahia), através dos quais populações litorâneas podem obter renda graças à venda de camisetas, artesanatos e outros produtos que levam a marca do Tamar.

?Quinze anos após a criação do projeto, começamos a verificar que as tartarugas que haviam nascido quando iniciamos nossas atividades já estavam começando a voltar às praias para se reproduzir. Atualmente, mergulhadores têm dito que o número de tartarugas vistas no fundo do mar é cada vez maior?, declara Guy. ?Antigamente, era preciso fazer vinte mergulhos para conseguir ver uma tartaruga. Hoje, basta fazer um mergulho para ver vinte animais. Se não fosse o Tamar, as cinco espécies com certeza já estariam extintas.?

Os integrantes do projeto realizam atividades do litoral de Santa Catarina ao litoral do Ceará.

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