Cada cadela pode ser responsável pelo nascimento de 550 descendentes (incluindo filhos, netos, bisnetos e integrantes de gerações futuras) a cada dois anos. Cada gata – que entra no cio com bem mais freqüência do que as cadelas – pode ser responsável pelo mesmo número de descendentes em período ainda menor: um ano.
Diante desta constatação, um grupo de pessoas voluntárias que realizam trabalhos de proteção animal fundou, em Curitiba, uma nova organização não governamental voltada ao incentivo da castração de cães e felinos como forma de combater a superpopulação dos mesmos. É a Focinhos – Associação de Proteção aos Animais, que foi oficialmente criada no último mês de julho.
?Nesta fase inicial, a ONG é composta por seis pessoas. Todas elas já realizavam trabalhos independentes de proteção animal e incentivo à castração. Resolveram fundar uma entidade com o objetivo de se constituir legalmente e, no futuro, poder pleitear verbas públicas e privadas para a realização de mutirões de castração de animais pertencentes a pessoas carentes?, explica a presidente da Focinhos, Lahna Winter, que também é publicitária e responsável pela elaboração do material gráfico da organização.
Para poderem iniciar seus trabalhos, os integrantes da entidade colocaram verba própria na confecção de canecas de porcelana – nas cores laranja e preto e estampadas com as figuras de um cão e de um gato que foram eleitos os mascotes símbolo da ONG – a serem vendidas à comunidade pelo preço de R$ 15 a unidade. Até que a obtenção de verbas públicas e privadas se torne possível, todo o dinheiro arrecadado com as vendas deve servir para a realização de cirurgias de castração gratuitas. Os pontos de venda das canecas podem ser identificados através do site www.projetofocinhos.org.br.
Para poderem iniciar seus trabalhos, os integrantes da entidade colocaram verba própria na confecção de canecas de porcelana. |
No futuro, a renda deve ser incrementada com a venda de camisetas, que ainda estão em fase de confecção e devem ter as mesmas estampas das canecas. ?Já temos uma fila de pessoas que solicitam a castração de seus animais. Podem se candidatar às cirurgias pessoas com renda familiar de até três salários mínimos, que não tenham condições de, por conta própria, arcar com as despesas do procedimento em clínicas e hospitais veterinários?, comenta Lahna.
Para que as castrações possam ser disponibilizadas à comunidade carente de forma gratuita, a entidade deve arcar com os custos dos materiais cirúrgicos e contar com a colaboração de médicos veterinários que, de forma voluntária, realizarão as cirurgias. Para que seus animais sejam beneficiados, os proprietários podem se candidatar às mesmas através do site da Focinhos. Não há limite no número de cirurgias a serem realizadas. Segundo a publicitária, as castrações serão feitas de acordo com a verba que a entidade tiver disponível.
?Somos contra o extermínio de animais como forma de controle populacional. Por isso, defendemos a castração e a posse responsável como solução para os problemas gerados pela superpopulação. Todos devem procurar esterilizar os seus cães e gatos, pois não há mais necessidade de filhotes. Não há como as famílias nem as entidades que dão abrigo a animais abandonados absorverem todos os bichinhos que nascem. Então, a melhor coisa a fazer é evitar que eles nasçam e acabem abandonados nas ruas, sujeitos a atropelamentos e diversas formas de maus- tratos?.
Na capital, existem entidades que dão abrigo a animais abandonados, mas todas estão superlotadas e sem condições financeiras de manter mais animais. Com o objetivo de combater o abandono, a Focinhos também defende que o assunto posse responsável de animais se transforme em disciplina obrigatória no currículo escolar das crianças. ?O assunto pode ser tratado como uma disciplina específica ou dentro de outras disciplinas. É muito mais fácil conscientizar crianças do que adultos. No futuro, elas poderão transmitir os conhecimentos a seus filhos, propagando informações?, finaliza Lahna.
Esterilização custa entre R$ 200 e R$ 500
Célia Takaoka: ?O primeiro local onde trabalhei foi a Sociedade Protetora dos Animais?. |
As cirurgias de castração promovidas por entidades como a Focinhos são realizadas por médicos veterinários voluntários que, de maneira espontânea, dedicam parte de seu tempo e seu trabalho a ajudar famílias carentes. Um destes profissionais é Célia Takaoka, que trabalha na Petclin Veterinária Fanny, na capital. Há cerca de três anos ela presta serviços ao Clube das Pulgas e, em breve, deve começar a ajudar a Focinhos.
?O primeiro local onde trabalhei foi a Sociedade Protetora dos Animais (entidade curitibana que presta abrigo a animais abandonados). Lá, presenciei muitos casos de maus-tratos a cães e gatos, o que me fez abraçar a causa da castração como forma de controle populacional?, afirma. ?Aconselho que todas as pessoas que não desejem filhotes realizem a cirurgia em seus animais?.
De acordo com Célia, os procedimentos de esterilização são considerados simples e rápidos, custando entre R$ 200 e R$ 500, dependendo do sexo, do peso e do tamanho de cada animal. Em machos, é realizada retirada dos testículos. A cirurgia dura, em média, dez minutos. Em fêmeas, com duração aproximada de quarenta minutos, é feita retirada de útero e ovários.
As cirurgias podem ser realizadas em animais de qualquer idade e mesmo naqueles que já tenham tido filhotes. Porém, no caso das fêmeas, tanto de cães quanto de gatos, o mais indicado é castrá-las antes do primeiro cio, que geralmente acontece entre o sexto e o sétimo mês de vida. ?Se a castração for realizada antes do primeiro cio, as chances de o animal desenvolver câncer de útero e ovário ficam bastante reduzidas?.
A castração gera algumas mudanças no metabolismo dos animais, o que faz com que alguns ganhem um pouco de peso após a cirurgia. Porém, Célia diz que isto não é motivo para que a cirurgia deixe de ser realizada. ?O problema é mais comum em animais que tenham tendência à obesidade e com idades mais avançadas, que geralmente são mais sedentários. Pode ser controlado com alimentação especial. Para gatos, existe até ração própria para animais castrados?.
No mercado de pet shops, também para evitar crias indesejáveis, são comercializados anticoncepcionais injetáveis para cães e gatos, que normalmente devem ser aplicados nas fêmeas de seis em seis meses. Entretanto, o uso dos mesmos não é indicado pela grande maioria dos veterinários, pois pode aumentar as chances dos bichinhos desenvolverem câncer e infecções de útero.