Pela primeira vez uma organização não-governamental (ONG) em defesa dos interesses gays de um país em desenvolvimento ganha status oficial nas Nações Unidas. Com o amplo apoio do Itamaraty, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT) foi aceita como entidade consultiva no Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela é terceira ONG a ter esse status. As outras são da Espanha e Noruega. Todos os países árabes votaram contra a adesão da ONG, assim como a China, que fez de tudo para evitar a entrada do grupo brasileiro. No mundo, cerca de 70% dos países ainda criminalizam o homossexualismo – em nove deles, há pena de morte para gays.
Alexandre Boer, diretor da ABGLT, afirma que a entidade “está alinhada com o governo”. Além da ONG brasileira, são menos de dez as entidade que fazem parte da ONU com objetivo semelhante. Em debates anteriores, um comitê da ONU destinado a avaliar as candidaturas de ONGs decidiu que não seria recomendável a adesão da ABGLT. O comitê era formado em sua maioria por países islâmicos e regimes autoritários. Pequim havia pedido para o Brasil se opor a adesão de uma ONG de defesa da democracia, proposta pelos Estados Unidos. O Itamaraty não seguiu o pedido chinês.
Desta vez, 25 países pediram a inclusão da entidade, incluindo os latino-americanos e europeus, além de Estados Unidos, Canadá e Japão. O Uruguai, em nome do Mercosul, afirmou que a entidade teria a função de “desmontar preconceitos”.
Guilherme Patriota, representante do Brasil nos debates, deixou claro que a adesão não significaria que ela “promoveria a homossexualidade”. Para Hans Dahlgren, diplomata sueco, a entidade representa pessoas com o mesmo direito de todos. “Organizações não podem ser rejeitadas apenas porque não compartilham mesmo posição de governos”, afirmou.
