A descoberta de três corpos mutilados levou a uma onda de violência sectária que matou 30 pessoas durante o final de semana na Síria, em uma escalada dos confrontos que abalam o país desde que os levantes populares começaram há quatro meses, disseram ativistas hoje.
Os assassinatos são um sinal de que a revolta contra o presidente Bashar al-Assad está incendiando as tensões entre os diversos grupos religiosos e étnicos da Síria. A maioria dos sírios são muçulmanos sunitas, mas a seita à qual pertence o presidente Assad é uma minoria islâmica dissidente do ramo xiita, a alauíta. Também existem minorias de cristãos e drusos.
Rami Abdul-Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, com sede em Londres, disse que a violência começou no sábado, quando os corpos esquartejados de três homens da seita alauíta, partidários do governo, foram jogados em uma rua de Homs. Ontem, seis corpos de pessoas de outras seitas foram encontrados ao redor da cidade, em aparentes retaliações, disse um morador.
Partidários paramilitares do governo, chamados shabiha, saíram armados às ruas e dispararam contra pedestres em bairros predominantemente habitados por muçulmanos sunitas de Homs. Segundo o morador, até 40 lojas foram queimadas ou destruídas por vândalos. “Foi uma catástrofe e a situação poderia ter saído facilmente do controle”, disse o morador. Segundo ele, a situação se acalmou hoje, mas a tensão permanece alta em Homs, terceira maior cidade do país.
Outro ativista afirma que entre os mortos está uma mulher de 27 anos, mãe de três filhos, que foi atingida por um tiro quando saía de casa. Outro morto foi um homem de 50 anos, que levou um tiro enquanto estava no balcão da sua loja. “Eu estive no velório do sujeito no domingo e tudo o que ele fez foi estar no balcão da loja”, disse o morador. Segundo ele, os moradores começaram a montar barricadas para proteger os acessos aos bairros.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos e um ativista sírio em Homs calculam em 30 o número de mortos e afirmam ter os nomes das vítimas.
Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que mais de 1,6 mil pessoas, a maioria civis desarmados, foram mortas na repressão do regime de Assad aos protestos. O governo contesta esse número e culpa extremistas religiosos e gangues de criminosos pelo motim. Acredita-se que 350 policiais e soldados estão entre as 1,6 mil pessoas mortas.
Uma guerra civil sectária seria um dos piores cenários para a Síria. O país abriga mais de 1 milhão de refugiados do vizinho Iraque, o qual serve de exemplo do que pode acontecer quando há um colapso de regime seguido por uma fratura em uma sociedade religiosamente dividida. Mas a oposição síria, que ainda tenta encontrar uma voz unificada, se apresenta como um movimento político acima das divisões sectárias. As informações são da Associated Press.