O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta quinta-feira que não tomará dinheiro público para a sua campanha eleitoral, uma estratégia política arriscada que poderá lhe permitir arrecadar mais dinheiro que seu rival republicano John McCain, mas que também pode o expor a acusações de hipocrisia.
Obama disse no início da campanha que poderia tomar dinheiro público se seu rival fizesse o mesmo. Nos Estados Unidos, candidatos que aceitam dinheiro público para campanha não podem receber doações de empresas e doadores particulares. Mas do início da corrida eleitoral até agora a campanha de Obama tem demonstrado possuir uma enorme capacidade de arrecadação através de pequenas doações feitas na internet, de um grande número de colaboradores. A arrecadação da campanha de Obama bateu recordes durante as primárias democratas.
A campanha de Obama deverá arrecadar muito mais que os US$ 84 milhões disponíveis em recursos do governo para o candidato. Mas ao abandonar a possibilidade de usar dinheiro público, ele se arrisca a macular a imagem que tentou projetar de si próprio, do candidato que mudará os caminhos do dinheiro na política de Washington. Ele também abre o espaço para acusações de que abandona seus princípios em troca de ganhos políticos.
McCain, que já deu passos para aceitar dinheiro público de campanha, aproveitou imediatamente a declaração do seu rival. Ele acusou Obama de minar o sistema público de financiamento a campanhas políticas e disse que o senador por Illinois "revelou-se apenas mais um político típico, que fará e dirá aquilo que é mais oportuno para Barack Obama."
Obama será o primeiro candidato a rejeitar dinheiro do fundo público para campanhas políticas, desde que o Congresso dos EUA aprovou as leis para financiamento de campanhas, após o escândalo Watergate em meados da década de 1970.
O sistema público é pago pelos próprios contribuintes, que em troca recebem devoluções de impostos.
"Não é uma decisão fácil, especialmente porque eu apoiei um forte sistema público para financiar campanhas," disse Obama aos partidários em uma mensagem de vídeo nesta quinta-feira. "Mas o sistema público de financiamento a campanhas presidenciais, como existe atualmente, está quebrado, e nós enfrentamos adversários que viraram mestres no jogo dentro desse sistema quebrado."
A campanha de Obama já havia arrecadado US$ 265 milhões até o final de abril, quando as primárias democratas estavam em curso. Dessa soma, US$ 10 milhões já eram para a campanha presidencial. McCain, por sua vez, já havia arrecadado US$ 115 milhões até maio. Mesmo assim, McCain pode contar com dinheiro do Partido Republicano, que tem mais recursos em caixa que o Partido Democrata. Os partidos, pela lei americana, podem gastar o próprio dinheiro nas candidaturas presidenciais.
Também nesta quinta-feira, Obama encontrou-se com sindicalistas, aos quais disse que seguirá políticas econômicas que beneficiem os trabalhadores se for eleito presidente.
Obama tem trabalhado para unir o movimento sindical americano em torno da sua candidatura, em uma série de encontros com líderes sindicais em Washington.
A maior central sindical da América do Norte, a União Americana do Trabalho – Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO, na sigla em inglês), anunciou na noite de quarta-feira que anunciará apoio a Obama nas próximas semanas. Só a AFL-CIO terá US$ 200 milhões para gastar nas eleições gerais deste ano, a maioria com o Partido Democrata.