Ao visitar o México e a Costa Rica, na semana passada, o presidente Barack Obama deu sinais de que pretende recalibrar sua política externa para a América Latina, no segundo mandato.
Para analistas, os EUA entendem que a região está em rápido processo de desenvolvimento e o melhor caminho é tentar “despolitizar” as relações e oferecer uma parceria econômica “entre iguais”, com ênfase em temas como comércio e energia.
Na prática, Washington vê duas peças centrais nesse tabuleiro latino-americano: o México, logo em sua região de fronteira, e o Brasil, a principal potência em ascensão do continente.
Em discurso a estudantes no Museu de Antropologia da capital mexicana, na sexta-feira, Obama quase não falou sobre temas espinhosos, como imigração e narcotráfico.
Em vez disso, preferiu se alongar sobre o “novo México que está emergindo” e ofereceu uma relação entre “sócios iguais, dois países soberanos”, capazes de enterrar “estereótipos do passado”.
Antes de embarcar para a Cidade do México, Obama já avisara em entrevista a Americas Quarterly: “Um foco principal de minha conversa com (o presidente Enrique) Peña Nieto será como ampliar nossa extraordinária relação econômica”.
O presidente comemorou a inclusão do vizinho na negociação da Parceria Trans-Pacífica, iniciativa que busca construir um enorme corredor de livre comércio entre a América do Norte e a Ásia.
Para Abraham Lowenthal, professor emérito da Universidade do Sul da Califórnia, o México é o epicentro do que pode ser chamado de “o exterior próximo” dos EUA: a região que vai do Rio Bravo até o Panamá, formada por países cuja relação com EUA “é marcada pela dificuldade em distinguir entre as agendas doméstica e externa”.
O Brasil constitui o outro foco de Obama no hemisfério, pois “é, de longe, o maior, mais influente e promissor entre os países latino-americanos”, diz Lowenthal.
A atenção especial a essa outra parte da região virá em meados do segundo semestre, quando a presidente Dilma Rousseff será recebida novamente na Casa Branca – desta vez, com a máxima distinção, a de “visita de Estado”.
Na avaliação de funcionários americanos, se temas como Irã e Honduras marcaram o período Luiz Inácio Lula da Silva, com Dilma, as desavenças políticas perderam parte de sua relevância.
Silêncio
A ideia de “despolitizar” a diplomacia na América Latina, porém, tem um alvo especial: o bloco bolivariano. Michael Shifter, do instituto Diálogo Interamericano, cita como exemplo o silêncio do governo Obama diante da decisão do presidente boliviano, Evo Morales, de expulsar a Usaid, a agência americana de desenvolvimento, na semana passada. “Os EUA não têm mais apetite para esse tipo de confronto retórico”, diz.
É essa também a linha de atuação de Obama diante da crise que tomou conta da Venezuela após a vitória de Nicolás Maduro, contestada pela oposição. Os EUA não reconhecem o resultado da eleição, mas funcionários do primeiro e segundo escalão do governo mantêm silêncio sobre o caso, tentando evitar dar brecha ao discurso antiamericano dos herdeiros de Hugo Chávez.
“A não ser que a situação venezuelana chegue a um extremo, será essa a posição americana.” Diplomatas brasileiros dizem que, embora as relações com o México sejam boas, o país historicamente vê com resistência a ideia de o Brasil ser “o líder” da América Latina.
O principal exemplo disso é a oposição mexicana a um assento permanente brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Juntamente com a Argentina e a Colômbia, o México integra o bloco chamado “Unindo para o Consenso”, principal força de oposição à aliança entre Alemanha, Japão, Índia e Brasil (o G-4), que busca entrar no conselho.
Jason Marczak, da Americas Society, acredita que o México “não é o principal fator” por trás da relutância de Washington em apoiar a ambição brasileira na ONU (Índia e Japão receberam a bênção de Obama). Para Marczak, há “mais fatores de convergência do que de divergência” entre brasileiros e mexicanos e os dois países reconhecem isso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.