Com a crise financeira e o consequente desencantamento dos norte-americanos com o atual governo, a maior economia do mundo realiza hoje o sonho verbalizado por Marthin Luther King há 45 anos. “Eu tenho o sonho de ver um dia meus quatro filhos vivendo numa nação em que não sejam julgados pela cor de sua pele, mas sim pelo seu caráter”, discursou o ativista dos direitos sociais em 1963. Nesta terça -feira (20), toma posse o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama.
No que diz respeito ao apoio do Congresso, Obama governará no cenário dos sonhos de qualquer presidente – o Partido Democrata tem maioria tanto no Senado quanto na Câmara. No Senado, conta com 54 democratas contra 40 republicanos e dois independentes. Na Câmara, onde são necessários 218 votos para obtenção de maioria, há 252 deputados democratas, 173 republicanos e 10 indecisos. Obama conta ainda com o apoio dos governadores – 29 são democratas e 21 republicanos.
Filho de pai queniano, mãe americana e padrasto asiático, Obama nasceu em Honolulu, no Hawaí, no dia 4 de agosto de 1961 e foi criado pela mãe, Ana Duhan. Seu pai, o economista Barack Obama, e sua mãe Ann Duham se conheceram na Universidade do Hawaí. Depois de separados, o pai voltou para o Quênia e Obama foi criado pela mãe e pelo padrasto em Jacarta. Com 10 anos de idade, foi morar com os avós nos Estados Unidos.
Obama graduou-se em Ciências Políticas pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, em 1983. Em 1991, se formou em direito na Universidade de Harvard. De 1985 a 1996 – quando foi eleito parlamentar para a Assembléia geral de Illinois – trabalhou como líder comunitário em bairros pobres de Chicago e como advogado na defesa de direitos civis. Simultaneamente, lecionava direito constitucional na Universidade de Chicago. Reeleito em 2000, foi eleito senador da República em 2004 pelo Partido Democrata no Estado de Illinois, com 70% dos votos.
Casado há 16 anos com a advogada Michelle Obama e pai de duas filhas, Barack Obama foi escolhido candidato à Presidência dos Estados Unidosem 2008, após cinco meses de acirrada disputa com a ex-primeira dama e também senadora democrata Hillary Clinton. Hillary desistiu da candidatura e declarou apoio à Obama em maio, quando ele alcançou mais do que os 2.118 delegados necessários à nomeação. Oficializada em 28 de agosto, a nomeação, por um grande partido, de um negro à Casa Branca já foi fato histórico na política norte-americana.
Obama evitou, em sua campanha, a polêmica racial. Beneficiado pela baixa popularidade do republicano George W. Bush tanto internamente quanto no exterior, recebeu o apoio de celebridades e autoridades do mundo todo. Com um discurso de mudança – o site de campanha e do governo de transição levou o nome de Change, que significa mudança em inglês – e com o slogan “Yes We Can [Sim, nós podemos]”, derrotou o republicano John MacCain e foi eleito presidente dos Estados Unidos no dia 4 de novembro de 2008, com 52% dos votos ( 62.527.406) contra 46% (55.450.968) de McCain. Ele venceu em 26 estados e no Distrito Federal de Washington. MacCain ganhou em 21 estados.
Entre as muitas promessas de campanha de Obama, estão a retirada das tropas americanas do Iraque, o fechamento da prisão de Guantânamo, a legalização dos imigrantes e a retomada do diálogo com nações amigas e inimigas. Mas foi a crise financeira internacional que deu o tom do processo eleitoral a partir de 15 de setembro, quando a Lehman Brothers decretou falência, o Bank Of America comprou e salvou a Merril Lynch e o índice Dow Jones caiu 500 pontos.
Questões antes centrais para o povo norte-americano, como o terrorismo e a guerra do Iraque, caíram para segundo plano. Para 63% dos eleitores, a economia era a questão mais importante. Outros 10% consideravam a guerra do Iraque como tema central, 9% estavam preocupados prioritariamente com terrorismo, 9% com o sistema de saúde pública e 7% com energia.
A recessão mobilizou americanos normalmente alheios à política e levou pela primeira vez às urnas 11% dos eleitores. Destes, 68% votaram em Barack Obama. O principal desafio do novo presidente será justamente salvar a maior economia do planeta.