Emerli Schlögl
O universo simbólico do qual emergem as culturas religiosas é absolutamente diverso e enriquecido por significações profundas para o psiquismo humano. Não pode haver Ensino Religioso se não houver uma aproximação entre os indivíduos e o contexto simbólico. As religiões, enquanto criações metafóricas do humano em contato com o mistério, fazem uso dos mitos, que nada mais são do que textos construídos sobre os códigos simbólicos, dos rituais que conjugam em si movimentos e desejos na expressão do contato do ser com o mundo supra-sensível.
Poesia e religião habitam a mesma casa, ambas constroem sua existência em meio a um denso, colorido e complexo mundo onde o imaginário, o sensível, o afetivo e o cognitivo se unem para a sua formação. A escola, ao trabalhar com o fenômeno religioso no que se refere às diferentes manifestações do sagrado, participa de um mundo para o qual se faz necessária a alfabetização simbólica. Quero dizer com isso que o professor de Ensino Religioso, a fim de compreender as diferentes facetas do universo religioso em toda a sua diversidade, necessita compreender elementos básicos que constituem as diferentes linguagens do simbólico. Entre elas, as cores, os sabores e suas significações, os gestos, as palavras, as vestimentas, os sons. É nos detalhes das construções arquitetônicas religiosas que o ser humano apresenta aspectos de sua crença, facetas que descortinam aspectos de seu deus, deusa, ou seres divinos. Na música, dita sacra, se desdobram significados diversos, bem como nos aromas, textos, palavras, preces, mantras…
Muitas vezes o próprio seguidor de determinada religião, tradição mística ou filosófica, respira os símbolos de sua fé sem ter com eles uma relação conscientizada, sem, portanto, lhes compreender os sentidos.
Todo símbolo implica em múltiplas interpretações, favorecendo o exercício do alargamento da consciência, e o exercício de realizar sínteses, mesmo entre conteúdos antagônicos. Ex.: o vermelho pode significar amor e paixão, mas também guerra e sangue. Sabendo que um símbolo porta muitos sentidos, não é possível se instalar o dogmatismo e a intolerância face ao tipo de relação peculiar que alguém estabelece com seus próprios símbolos religiosos.
Determinante para o trabalho na disciplina de Ensino Religioso é salientar que cada cultura produtora de símbolos agrega a eles significados bastante particulares e peculiares a esta cultura geradora. Não podemos interpretar, por exemplo, o dragão na perspectiva judaico-cristã da mesma forma que interpretamos o dragão na perspectiva da cultura chinesa. São sentidos completamente diferentes. Importando, neste caso, que o professor de Ensino Religioso aprenda a buscar as significações simbólicas no contexto das culturas das quais estes símbolos derivam.
A simbologia é um estudo encantador, que pode auxiliar o pesquisador a compreender o universo religioso das culturas indígenas, africanas, afro-brasileiras, orientais, ocidentais, entre outras. Dessa compreensão mais sensível, pode-se esperar comportamentos de respeito, diálogo com o diferente e, sobretudo, comportamentos que venham a resgatar o valor e a beleza de cada cultura religiosa.
Não há vida humana sem a intermediação do simbólico, e não há universo simbólico sem beleza, sem ludicidade e liberdade. Ensino Religioso, portanto, é uma disciplina que pode vir a contribuir para a formação do ser humano sensível e capaz de viver eticamente em meio à diferença.