Nenhum super-herói é mais poderoso que o Super-homem. Apesar de não ser desse mundo, ele tem a forma humana, é invencível, justo e sua função é nos salvar de todo mal. É claro que para a história funcionar era necessário um supervilão, no caso o terrível Lex Luthor. Entretanto o segredo desse sucesso talvez esteja nas entrelinhas.
O Super-homem luta pela paz, mas dentro das regras já estabelecidas pelo mundo ocidental, mais precisamente pelo ?american way life?. Então, o Super-homem, com sua força colossal, é sobretudo a personificação de um país que sonha impor a sua verdade e a sua justiça aos demais povos do mundo. Ainda que moralmente incorreto, esse comportamento é apenas um reflexo da lei natural de sobrevivência, a qual privilegia o mais forte. E a grande maioria aceita isso porque é igualmente natural sujeitar-se ao mais forte para sobreviver.
A empatia gerada pelo Super-homem se deve também ao fato da sua biografia lembrar muito a de Jesus Cristo, pois ele também veio de outro mundo, e a mando de seu pai, para proteger e salvar a humanidade. Ou seja, ele faz o mesmo papel solitário de salvador de uma humanidade que jamais conseguiu viver um só dia realmente em paz.
Aliás, papel esse que todos dispensamos, não apenas por nossa evidente incompetência, muito menos por convicção moral, mas porque tememos a solidão. E para ser um herói, salvador ou mártir é preciso estar incrivelmente só.
Então, se até hoje não conseguimos por conta própria uma paz real e duradoura (física ou espiritual), receio que nosso destino maior seja mesmo viver à custa de ilusões.
Djalma Filho é advogado djalmafilho68@uol.com.br
